Toc-toc TikTok

Muito se tem falado do perigo das redes sociais, coisas dos tempos modernos. Ao mesmo tempo que a Internet nos aproxima das pessoas que estão longe e de quem mais gostamos, faz o mesmo com aquelas que… bem… não gostamos assim tanto… Aquelas pessoas com quem, felizmente, nunca nos cruzamos na rua, agora aparecem-nos na tela do nosso telemóvel com mais frequência do que desejaríamos. Bloquear alguém numa terra tão pequena onde a bilhardice circula à velocidade da luz, não parece resolver lá muita coisa. Ainda há aqueles que não publicam nada e não interagem, não falam, andam ali a pairar que nem fantasmas, a controlar os eventos da cidade como um Oswald Chesterfield Cobblepot que vive nas profundezas de Gotham City.

Estas tecnologias e modernices que calam os pequenos em qualquer lado, têm sido o refúgio, e o momento de sossego de muitos cuidadores. Não quero dizer que seja agradável vê-los chorar, estejam eles sob o nosso cuidado ou de outros, mas talvez fosse de bom-tom conversar com a criança com alguma frequência. Quer me parecer que estamos todos mais mortos que vivos. Andamos todos stressados, rabugentos e cansados, que inferno… Ou será apenas a velhice a chegar-me e já não dignidade em envelhecer? Desculpem, amadurecer, espero não ter ferido nenhuma susceptibilidade, vamos lá outra vez.... Ou será apenas a velhice a chegar-me e já não dignidade em amadurecer? (Assim é que é.)

Talvez pudéssemos ensinar aos mini-humanos a olhar em volta, a observar o mundo que as rodeia, a conseguirem entreter-se no tédio. Já viram um jovem cão ou um gato bebé sozinhos? Eles não precisam de telas para se entreter. Estarei eu a comparar a evolução humana de milhares de anos com a de um animal de estimação? Pois talvez… O que quer que nos sirva para aprendermos alguma coisa.

Defendo, embora esta defesa não sirva de nada em tribunal, nem à baliza… Defendo na mesma, que se deva implementar a monitorização de conteúdos, a eliminação de conteúdo ilegal, e que se melhore a transparência relativamente ao funcionamento dos algoritmos. Porém, acredito, também, que temos de preparar as pessoas para serem capazes de selecionar o que lhes faz bem e o que é um erro. Não basta protegê-las, teremos de as preparar para se saberem proteger, para saberem pensar com a própria cabeça e tirarem as próprias conclusões. Isto não lhes servirá apenas agora, nem apenas ao “surfar na net”, mas em inúmeras situações ao longo das suas vidas. Ensinemos estes seres pensantes a pensar, a ter integridade, princípios e valores…

Uma das coisas fabulosas da Internet, conseguimos pesquisar por sinónimos.

Somos cada vez mais pessoas no mundo, no entanto, estamos cada vez mais sós, já repararam nisso? Começam a faltar-nos competências sociais e comunicativas, princípios de convivência e de sobrevivência cultural e intercultural.

As redes sociais, em especial a última em voga, deixam-nos amarrados a uma corda invisível da procrastinação, queres sair e a aplicação continua a mostrar vídeos até ter a certeza que a queres mesmo fechar, mais do que o nosso mais recente romance a pedir-nos para ficarmos mais um bocadinho na cama. E os dias passam, a vida passa, tudo acaba por nos passar ao lado. E pergunto-me; quando vivemos realmente?

João Diz