Venezuela libertou ex-ministro acusado de instigar à rebelião
As autoridades venezuelanas libertaram o major-general do Exército e ex-ministro de Relações Exteriores da Venezuela, Miguel Rodríguez Torres, após quase cinco anos de prisão sob a acusação de instigação à rebelião.
A libertação de Rodríguez Torres, que entre 2010 e 2014 foi diretor-geral do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (SEBIN, serviços de informação) teve lugar no sábado, dia em que foi expulso do país para a Espanha, segundo a imprensa local.
Entretanto, a libertação foi confirmada pela família do ex-militar venezuelano, que emitiu um comunicado a agradecer a intervenção de Deus pela sua libertação, ao ex-líder do Governo de Espanha, José Luís Zapatero, ao Presidente da Colômbia, Gustavo Petro, e a vários políticos do Governo de Nicolás Maduro e da oposição venezuelana, bem como aos jornalistas dos Estados Unidos e às Igrejas Católica e Evangélica.
Por outro lado, num vídeo divulgado na Internet, o ex-diretor dos serviços de informação venezuelanos e dissidente do chavismo, diz partir "com muita dor" porque amava a sua terra e que continuará "a trabalhar e a lutar", ao mesmo tempo apelou "ao perdão e reconciliação nacional como solução para os problema do país".
A libertação de Miguel Rodríguez Torres provocou reações de apoio de utilizadores das redes sociais, mas também de condenação de venezuelanos que o acusam de ter um passado ligado à repressão.
Em comunicado, o Movimento Pela Democracia (MPD), criado pelo ex-ministro, aplaudiu a libertação, condenando, no entanto, que tenha sido expulso para a Espanha e apelando à libertação dos presos políticos no país.
"Lamentamos que Miguel, sendo inocente das acusações, tenha sofrido e pago uma condenação de cinco anos [de detenção] sem um julgamento que justificasse a sua prisão, que tenha sido caluniado publicamente sem poder defender-se (...) e que deva sair desterrado como condição para ter algo de paz e liberdade, necessárias para recuperar a sua saúde", explica-se no comunicado do MPD.
O ex-ministro venezuelano aparece no relatório da Missão de Determinação dos Factos sobre a Venezuela sobre "Crimes que lesam a Humanidade", cometidos pelo SEBIN.
O relatório precisa que Miguel Rodríguez Torres foi responsável pela segurança de serviços de informação de Hugo Chávez (presidiu a Venezuela entre 1999 e 2013) e Nicolás Maduro, estando alegadamente envolvido em detenções arbitrárias, tratos cruéis, inumanos e degradantes contra a dissidência, entre outros crimes.
Foi denunciado por ter criado o cárcere "La Tumba", entre outros "centros de tortura" do SEBIN.
Miguel Rodríguez Torres foi detido em 13 de março de 2018, durante um ato político no Hotel President, por funcionários do Sebin. O Governo venezuelano anunciou que estava envolvido em "ações contra a paz e a tranquilidade pública, conjuras e 'complots'" contra as Forças Armadas da Venezuela e planeava "atos armados e conspirações" contra a Constituição.
Foi também acusado de vínculos com os serviços de informação dos EUA, em particular a Agência Central de Inteligência (CIA).
Em 04 de fevereiro de 1992, participou numa frustrada tentativa de golpe liderada por Hugo Chávez contra o então Presidente da Venezuela, Carlos Andrés Pérez.
Em 2014, era ministro do Interior e Justiça da Venezuela, quando 43 pessoas faleceram durante manifestações da oposição que foram fortemente reprimidas no país.
Entre 2015 distanciou-se do regime, passando a fazer parte do "chavismo dissidente", após o que criou o Movimento Pela Democracia.
Em 2018, a Controladoria Geral da República ordenou que fosse legalmente impedido de exercer cargos públicos.
Foi detido em 13 de março de 2018 e depois transferido para um cárcere de máxima segurança no Forte de Tiuna, a principal base militar de Caracas.
Em 11 de junho de 2020, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos outorgou-lhe medidas cautelares porque a sua saúde estava em risco e não recebia atenção médica adequada.