Crónicas

Nããããããoooo… A sério?

1. Disco: Inovação, excelentes canções, cumplicidade. São poucas as bandas que podem reivindicar estas três características. Os Artic Monkeys são uma delas. “The Car”, é mais um álbum de primeira apanha, bem feito, urdido com cuidado e rigor. Depois de “Tranquility Base Hotel & Casino”, não era fácil fazer melhor. Nem sei se é melhor, mas no mínimo é igual. Ouçam-nos.

2. Livro: “O Mago do Kremlin”, de Giuliano da Empoli, é O LIVRO sobre o putinismo. De um modo romanceado, conta a história da ascensão de Vladimir Putin ao poder e a sua perpetuação. Uma viagem notável nos mistérios da política russa contemporânea. As armas da propaganda e as molas da estratégia de governação russa são dissecadas e ajudam-nos a compreender esta famosa alma russa, de que já nos falavam Dostoiévski e Tolstói. Será, certamente, um dos melhores que li este ano.

3. O caso Sérgio Marques, ou o Elefante na Loja de Porcelana. Alguém, no seu perfeito juízo, pode dizer que ficou espantado com as coisas que o ex-dirigente do PSD, Director Regional, deputado e secretário disse ao Diário de Notícias de Lisboa? A sério?

Protecção de grupos económicos? Nããããããoooo… A sério? Que os Donos Disto Tudo condicionam a governação? Nããããããoooo… A sério? Que os DDT controlam a comunicação social? Nããããããoooo… A sério? Obras feitas sem estudos de custo/benefício, perfeitas desnecessidades? Nããããããoooo… A sério? A aldrabice que foram, e são, as Sociedades de Desenvolvimento, que não serviram para outra coisa que não ultrapassar as contingências da Lei das Finanças Regionais? Nããããããoooo… A sério? O João Cunha e Silva como “factótum” de políticas de desorçamentação? Nããããããoooo… A sério? O Jaime Ramos e os interesses pessoais? Nããããããoooo… A sério? Que AJJ continua a tentar manobrar a política regional manobrando o PSD? Nããããããoooo… A sério? Que a saída de Sérgio Marques, que beneficiou muito o “lobby” do betão, mostrou o quão descartável é, e que tudo teve o dedo dos DDT? Nããããããoooo… A sério? O mesmo com a saída de Eduardo Jesus, aquando da sua primeira passagem? Nããããããoooo… A sério?

Qualquer pessoa que tenha o mínimo interesse pelo que se passa à sua volta, saberá a resposta a todas as perguntas acima. Só marcianos que tivessem vindo de férias à Madeira as desconheceriam. Ou quem usa palas que lhes impeçam a visão periférica. Ou quem tem o cu enfiado no próprio rabo.

Tudo isto ter sido dito por quem foi, dá ao assunto uma carga de credibilidade que não pode ser escamoteada. Mas claro que o será. Nem o Ministério Público mexerá uma palha, como a Comissão de Inquérito na ALRAM não dará em nada.

Albuquerque e o PSD/M sabem da poda e conhecem bem com quem lidam. Trataram logo de recuperar a notícia velha de Paulo Cafôfo, plantando-a no CM, para aumentar o ruído. Matou-se o mensageiro, mas a mensagem continua aí, por todo o lado. Agora é deixar o tempo actuar, o que fará cair o que foi dito no esquecimento. Cá estarei para lembrar.

4. E lá atrás o CDS/PP assobia para o ar, como se não tivesse nada a ver com o assunto.

5. Quem bate em quem está no chão é um cobarde. Não tem outro nome.

6. Com tudo isto fico com vergonha alheia e a certeza de que PSD Madeira e PS Madeira são as duas faces da mesma moeda. Gémeos verdadeiros separados à nascença.

7. Deitei-me com uma coisa que não me saia na cabeça, ouvida num daqueles debates intermináveis que acontecem diariamente nos canais noticiosos de televisão. O Ministro da Educação prepara-se para criar regras mais facilitadoras na passagem de ano para os alunos.

Em noite de forte insónia, entre um rebola para um lado e enrola para o outro, tive um momento Professor Pardal e disse entre dentes um baixinho “EUREKA”, para não acordar a minha mulher com um problema eminentemente nacional.

Sonhei com uma solução para a Educação. O Governo socialista do país descobriu em tempos (2019) que pode poupar 250 milhões de euros se acabar com os chumbos. Ficou com isto atravessado na garganta. Se passar toda a gente poupa-se dinheiro, mas fico com a impressão de que aquilo que se deixa de gastar agora vai custar muito, mas mesmo muito, no futuro.

Com o meu sistema, penso que ainda se ia poupar mais.

Então em que raio consiste essa bendita ideia?

Simples, tão simples que me espanta como ninguém ainda se lembrou disto: ACABAR COM OS ANOS!

Não é lindo? Um aluno entra no sistema escolar e fica ali até acabar. Sem anos, sem cartões e outras complicações. Não havendo anos, não há a necessidade de os passar, nem a necessidade de poupar, não chumbando.

A criança entra assim numa espécie de limbo do conhecimento, um lugar aconchegante e quentinho aonde lhe vão ensinar umas coisas fofas, devagarinho, para não doer. Ficávamos assim com o sistema dividido em Creche, Pré-Ensino e Ensino. Acabavam-se as escolas abecedário, aquelas que antes do seu nome têm uma data de letras e números, EB+S 1/2/3 e outras coisas assim.

O que também ia à vida eram aquelas secas que os putos apanham em casa de tias, que vêem a cada cem anos, que consiste na pergunta: “então em que ano é que andas”? Já que a pergunta das boas notas deixou de fazer sentido, uma vez que isso não terá importância nenhuma. As visitas deixam de fazer sentido. Os caramelos e as meias brancas com raquete a premiar o desempenho escolar deixam de ser oferecidas, pois, não têm função que cumprir.

Como não há anos, a pretensão dos professores recuperarem os 9 anos cai pela base, tendo só direito aos 4 meses e dois dias. E isso penso que o Governo paga com prazer.

Finalmente, isto cria um sentido de igualdade, o que o socialismo advoga: todos iguais, mesmo que sejamos todos diferentes. Ou seja, um miúdo que ande agora no 7.º ano deixa de ser de menos que um marmanjo que frequente o 12.º, pois andam todos no mesmo, independentemente da idade.

Isto até pode parecer assim a modos que confuso à primeira vista, mas fiquem descansados que resultará. Vai correr tudo bem.

8. A democracia em tempo real, sonhada nos inícios da digitalização como democracia do futuro, resultou numa completa desilusão. Manadas digitais não formam um colectivo responsável, com capacidade de intervenção política. Os “followers”, na condição de novos súbditos das redes sociais, deixam-se amestrar, como gado para consumo, pelos ditos “influencers”, normalmente gente inculta e mentirosa. Por via disso, as redes sociais substituíram a boa imprensa, sendo hoje o centro da informação, normalmente de má qualidade, para não a considerar falsa. A comunicação regurgitada pelos algoritmos das redes sociais não é nem livre, nem democrática.

9. Escrevi hoje para todos e todas, todes e todxs, tod+s e todis, todls e todqs, todbs e todgs, todts e os outros… e as outras, outres e outrxs, outr+s e outris, outrls e outrqs, outrbs e outrgs, outrts e a restante malta… e malto, malte e maltx, malt+ e malti, maltl e maltq, maltb e maltg, maltt e @. Ufaaaaa…

10. Imagem de hoje: trabalho de colagem digital sobre uma fotografia da Marina do Lugar de Baixo de Homem de Gouveia/Lusa.