S. Paulo, oração e conversão à unidade dos cristãos
O oitavário de oração pela unidade da Igreja iniciado em 1908, pelo anglicano Paul Watson, levou-o a converter-se à Igreja Católica. Imaginemos uma história de ficção. Na Carta aos Gálatas S. Paulo diz que teve uma revelação em Damasco que lhe pedia para anunciar Cristo aos gentios e que se retirou para a Arábia. Num encontro com judeus falou da sua experiência e que agora ia anunciar aos gentios que aceitassem Cristo. Não tinham que se circuncidar. Alguns judeus procuraram levá-lo a ser conciliador com a lei judaica e seitas religiosas pagãs. Todos unidos, sim, mas cada um nas suas crenças, ritos, circuncisão, etc.? S. Paulo respondeu que Cristo era o único Salvador de todos; morreu na cruz, mas está vivo e os que acreditam n’Ele, gentios, gregos, romanos, judeus se salvam sem ritos da lei de Moisés. Cristo morreu por todos e ressuscitou. Salva-nos pela morte na cruz. Os saduceus do grupo pediram que se deixasse disso. Não havia ressurreição nenhuma, Cristo não era nenhum Ressuscitado ou Filho de Deus. Alguns fariseus achavam que era melhor que cada um fosse ao templo (ainda havia) e às sinagogas e cumprisse a lei de Moisés. Os de seitas pagãs insistiam que adorassem os ídolos, fossem amigos e cada um vivesse como quisesse. Paulo calou-se a pensar… Decidiram reunir-se de novo no dia seguinte. Paulo foi dormir. Em sonhos, um anjo perguntou-lhe se não tinha reparado nos companheiros do encontro. Abriu os olhos, era um grupo de tentadores a desviá-lo do que Cristo lhe tinha revelado. Lembrou-se que não tinha que consultar a carne e o sangue (fim da história).
O oitavário de oração pela unidade dos cristãos (não das Igrejas) é bem preciso para os cristãos, e os católicos, acreditarem em Jesus Cristo e na sua Igreja: Cristo, Filho de Deus Incarnado, Deus e Homem verdadeiro, com natureza divina e humana, unidas numa só pessoa. Os primeiros cristãos realizaram encontros, concílios e oraram muito e deram a vida por Cristo. Não faltaram separações e heresias de cristãos batizados, repetidas apesar dos concílios e encontros entre os Padres da Igreja. Houve separações nos séculos IV-V, de Nestorianos, Coptas; nos séculos XI e XVI de Ortodoxos, Reformados Protestantes e Anglicanos. Hoje continuam conflitos e dissensões apesar das iniciativas ecuménicas e de a oração e estudo terem levado a muitas conversões a Cristo, individuais, grupos, e dioceses inteiras. S. João Henry, Card. Newman, aceitou a Igreja Católica; e há 150 anos, Mary Wilson, que já rezava a Nossa Senhora, começou a acreditar na Eucaristia (...). A oração de Cristo e a nossa com Ele, pela unidade, leva à conversão séria, a Jesus e à Igreja Católica, aos sacramentos, à devoção a Nossa Senhora, Mãe de Deus, e não num faz de conta. O próprio Cristo orou ao Pai com grande exigência. Afirmou a sua unidade com Ele e pediu unidade semelhante e profunda entre todos os cristãos: «Para que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que assim eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste» (Jo. 17,21-22). Jesus é «o Caminho, a Verdade e a Vida», e a unidade realiza-se por caminhos sinodais à volta da Palavra de Deus e não contra a Verdade e contra a Igreja de Cristo para que «haja um só rebanho (a sua Igreja) e um só pastor» (Ele). A palavra de Deus é Cristo, o Pastor Ressuscitado, um só e não muitos à maneira da história ficcional acima. O Papa Francisco na Carta sobre o domingo da Palavra de Deus (30.09.2019) diz que a «Palavra de Deus permite, antes de mais nada, fazer a Igreja reviver o gesto do Ressuscitado que abre, também para nós, o tesouro da sua Palavra, para podermos ser no mundo arautos desta riqueza inexaurível». E só conseguiremos esta missão pela unidade com oração, a Palavra de Deus e a caridade.
Funchal, Conversão de S. Paulo e unidade da Igreja 18-25.012023
Aires Gameiro