Boa Noite

Negacionismo

Na República e na Região há governos com graves problemas de memória

Boa noite!

A semana dos números de circo governativos chega ao fim com estocadas severas na credibilidade de uns e de outros.

Na República pródiga em balbúrdia e amnésia, o ex-ministro Pedro Nuno Santos assume finalmente que o seu ministério deu "anuência política" para a saída da TAP de Alexandra Reis, acrescentando que foi informado "do valor final do acordo" entre as partes, os 500 mil euros polémicos, tratados como se fossem míseros cêntimos por três intervenientes com défice de atenção. O ex-governante garante que não se lembrava do valor da indemnização e que só uma reconstituição de todo o processo permitiu concluir, só agora, que afinal estava por dentro de tudo aquilo que pelos vistos ninguém quis assumir. Não fora a intervenção destemida da CEO da TAP no Parlamento e a esta hora nem com auxiliares de memória havia tamanho esclarecimento público.

Na Madeira, que mantém o primeiro lugar do ranking nacional no que concerne ao risco de pobreza, o presidente do governo entende que a taxa "não reflecte a realidade da nossa sociedade". É bem capaz de não espelhar na plenitude pois há muita miséria escondida e alguma riqueza não declarada. Mas fica mal a Miguel Albuquerque ser negacionista numa matéria com várias dimensões sociais, pois o nosso povo, o mesmo que em quase 50 anos de democracia, de desenvolvimento, de fundos europeus e de subsídios, não foi integralmente inaugurado. E é por isso que chegados aqui, predomina a ficção. A realidade é bem mais cruel que o risco indesejado. Basta constatar quantos não conseguem ter casa própria, salários dignos e esperança no futuro.

Com governos deste calibre, pródigos em gerar assimetrias e a deixar multidões nas margens,  ávidos de recompensa e distraídos com o entretenimento, nem as centrais de propaganda fazem milagres, mas quase de certeza que agências de comunicação contratadas para o efeito vão recorrer a estratégias de branqueamento e a manobras de diversão para que, quando chegar a hora de fazer escolhas, esta herança desprezível não conste dos cadastros dos candidatos.