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2023: ano de incertezas, também para os Professores!

2023 nasceu com muitas incertezas que não tínhamos há um ano quando 2022 começou. A grande incerteza, a meu ver, é a evolução da invasão da Ucrânia pela Federação Russa, situação que a maioria de nós não pensávamos que iria acontecer alguma vez. Claro que o que sentimos são os efeitos longínquos dessa guerra, enquanto os Ucranianos se batem no terreno contra um inimigo cruel que não respeita nem as leis da guerra. Admiro e saúdo a resistência e a resiliência do povo ucraniano e devemos tudo fazer para que o nosso apoio não diminua em 2023 de modo que o direito internacional volte a ser respeitado.

A guerra gerou um conjunto grande de incertezas para todos. Comecemos pelo nível dos preços, em particular, dos bens alimentares que em 2022 tiveram um incremento de mais de 20% em alguns casos. Este aumento de preços afetou a todos sem exceção, mas para as famílias mais desfavorecidas tornou muito difícil a sua vida, tendo muitas que recorrer a apoios de instituições para obterem os bens que necessitam. Assim para estas famílias a incerteza é também saberem se estas instituições vão ter bens suficientes para as apoiarem num cenário em que o número de famílias que carecem de apoio é crescente. Por isso é importante que quem pode contribua sempre nas campanhas de angariação de bens levadas a cabo pelas instituições de solidariedade social.

A incerteza sobre o aumento de preços em 2023 é grande, sendo que os otimistas apontam para aumentos da ordem dos 3% no final do ano, enquanto os mais pessimistas apontem para valores da ordem dos 10%. O que irá acontecer se os aumentos se mantiverem elevados, somando aos aumentos verificados em 2022? Quais as medidas de compensação que o Governo e as Empresas irão ter para minorar os efeitos de preços tão elevados num sistema em que os salários e rendimentos pouco crescem.

Não é previsível que os trabalhadores tenham aumentos de salários em 2023 que compensem os aumentos de 2022, por isso levará anos para recuperarem o poder de compra que tinham em dezembro de 2021. Com grandes aumentos de preços em 2023 então demorará muito mais a voltarem a ter esse poder de compra. Sejamos francos, não é com cheques, do tipo caritativo, que se resolvem estes problemas e forma eficaz quer no médio quer no longo prazo.

O aumento dos preços – a inflação- levou a um aumento das taxas de juro com reflexo na vida de todas famílias portuguesas que têm um empréstimo com taxa variável. As prestações vão subir muito e rapidamente. Mais uma incerteza que é não saber exatamente quanto vai ser a próxima prestação e quanto é que irá subir até ao fim do ano. Pode ser que para alguns empréstimos a prestação até fique abaixo dos montantes pagos faz muitos anos, mas a realidade de juros baixos ou mesmo negativos trouxe um alívio orçamental ao qual as famílias se habituaram. Para os empréstimos recentes as simulações apresentadas às famílias para o caso do aumento dos juros eram feitas com juros muito mais baixos do que aqueles que se estão a praticar no presente, apanhando de surpresa mesmo aqueles que tomaram em consideração as simulações mais desfavoráveis que lhes eram apresentadas.

Como antigo Professor termino esta primeiro opinião de 2023 com a minha solidariedade para com os Professores que lutam pelas suas justas reivindicações. Também eles vivem com incertezas em todos os níveis de Ensino incluindo o Superior, pois além das incertezas da conjuntura económica têm ainda, não poucas vezes, que lidar com as incertezas que advêm de medidas e decisões fruto de más lideranças de pares que, sem a mínima noção de gestão e de gestão de recursos humanos, implementam a desvalorização do trabalho, o aumento da burocracia e da carga de trabalho, contribuindo deste modo para aumentar as desigualdades e a desvalorização de uma carreira à qual eles próprios pertencem e à qual terão que retornar terminadas as suas funções de gestão.

Espero que as incertezas da vida de muitos dos professores (casa às costas, anos de serviço não contados, entre muitas outras) passem em 2023 à certeza do reconhecimento e estabilidade que merecem para o bem de todos nós, a começar pelas Instituições onde exercem a sua função.