O bom, o mau e a carpideira
O sucesso do Pedro é, para além de testamento da sua qualidade como músico e compositor, prova de que a insularidade não é uma fatalidade
Maria do Céu, ministra, escolheu Carla para sua secretária de Estado. A escolha valeu até ser notícia que a nova secretária de Estado teria várias contas bancárias arrestadas, no âmbito de uma investigação criminal. Foi-se a secretária de Estado e começou a amnésia progressiva da ministra. Carla diz que avisou para o problema, Maria do Céu jura que não sabia. Carla diz que prestou informação, Maria do Céu jura que soube pelas notícias. Nada de novo. A súbita falta de memória é comum no governo de António Costa. Em breve saberemos que, afinal, a ministra não conhecia a secretária de estado, não se recorda ao certo do seu nome e tem sérias dúvidas se alguma vez a nomeou para o Governo. Quando a culpa aumenta, a memória diminui.
O bom: Pedro Macedo Camacho
Há um mundo de distância entre a música religiosa e a música que dá vida aos videojogos. É na peculiar encruzilhada, entre essas duas sonoridades, que está o compositor Pedro Macedo Camacho. Se lhe pedissem para escolher entre ambas, talvez respondesse, como assume nas suas redes sociais, que só conhece dois tipos de música: a boa e a má – e tenta compor a primeira. O reconhecimento que a sua música tem merecido diz-nos que tem conseguido cumprir com o propósito. De tal forma que o número, significativo e crescente, de prémios impede a sua enumeração nesta crónica. Julgo que o Pedro o dispensa. Ainda assim, a mais recente distinção ao seu trabalho de composição chegou pelos Hollywood Music in Media Awards, onde ganhou a categoria de melhor banda sonora para videojogo, pelo trabalho em “Chorus”. E assim, a partir de um rochedo no meio do Atlântico, faz-se música que ora ressoa nas naves das igrejas, ora retumba nos auscultadores de quem joga em frente a um monitor. Essa dualidade musical impressiona, mas se pensarmos que vem de uma ilha, tão pequena como a nossa, então desafia qualquer lógica. O sucesso do Pedro é, para além de testamento da sua qualidade como músico e compositor, prova de que a insularidade não é uma fatalidade.
O mau: O questionário governativo
O questionário anunciado por António Costa não é, em boa verdade, um questionário. É um documento interno, um instrumento de avaliação política e um compromisso de honra. É tudo e mais alguma coisa, menos um mecanismo de escrutínio. Por isso, não é nada do que se exigia perante a sucessão de nomeações governativas falhadas. Na verdade, o questionário é um fato à medida. À medida de quem escolheu mal e agora procura absolvição pelas escolhas. E à medida de quem quis, mas não conseguiu, arrastar o Presidente da República para o lamaçal das nomeações ministeriais. As três dúzias de perguntas, arrumadas à pressa numa resolução do Conselho de Ministros, sugerem que, até agora, pouco ou nada era questionado aos escolhidos para integrar o Governo. Suspeita essa que se adensa, pela suposta recusa de António Costa em submeter os atuais membros do seu governo às perguntas do questionário. Essa é uma das provas de que o prometido escrutínio, redundou em encenação. Para essa conclusão contribui, ainda, o facto do questionário não ser fiscalizado por qualquer entidade externa ao Governo e de, no final do mandato de quem o preencheu, ser obrigatoriamente destruído. Mais do que insuficiente, a proposta do Governo parece uma apólice de seguro para quem decidiu uma nomeação e não quer assumir as responsabilidades pela escolha. O mais ridículo do questionário proposto é que não teria evitado nenhum dos casos que lhe serviram de fundamento, principalmente porque todos eles eram públicos antes da nomeação. A indemnização de Alexandra Reis, o processo de Miguel Alves e as contas de Carla Alves. O único mecanismo que faz falta ao governo do PS é o bom-senso.
A carpideira: Christine Ourmières-Widener
Esta semana, pela boca da sua CEO, soubemos que há pessoas a chorar na sede da TAP. As lágrimas que jorram na companhia aérea, de tal forma que preocupam Christine Ourmières-Widener, não são de quem se esperaria que fossem. Não são as lágrimas dos passageiros com vôos da TAP repetidamente atrasados ou cancelados. Não são as lágrimas dos madeirenses forçados a pagar preços indecorosos para viajar dentro do seu país. Não é sequer o pranto dos contribuintes portugueses obrigados, no final do ano, a assinar um cheque de 990 milhões de euros para entregar à TAP. As lágrimas carpidas pela diretora-executiva da companhia aérea, em plena Assembleia da República, são pela mágoa insuportável dos diretores da TAP sempre que os seus salários são revelados em público. Imagine-se o horror vivido pelos imaculados diretores, forçados a viver com fartos salários e a sofrer diariamente a vergonha pública de uma vida desafogada. Mas o calvário não termina aqui. A agonia indizível dos diretores da TAP é agravada pelo cancelamento da compra de 50 carros da marca BMW que iriam renovar a frota automóvel corporativa para a administração e diretores. E se a desonra de receber um cheque mensal de 450 euros para andar de UBER, em vez de BMW, não bastasse, até na hora da saída os diretores e administradores da TAP são forçados a aceitar humilhantes indemnizações milionárias. Alexandra Reis recebeu uns degradantes 500 mil euros e Teresa Lopes terá recebido a aviltante quantia de um milhão de euros. Já dizia o povo – quem não chora...