Israel acusa ONU de discriminação e exagero no número de vítimas da Palestina
Israel acusou hoje as Nações Unidas (ONU) de discriminação e exagero no número de mortos palestinianos, após o coordenador para o Processo de Paz no Médio Oriente da Organização salientar a "alta proporção de vítimas da Palestina".
No debate trimestral do Conselho de Segurança da ONU sobre a situação no Médio Oriente, com foco na Palestina, o representante permanente de Israel, Gilad Erdan, afirmou que o seu homólogo palestiniano, Riyad Mansour, merecia um "Óscar pelo seu ato de falsa vitimização" e acusou a ONU de "compilar estatísticas distorcidas e dados falsos" sobre as vítimas palestinianas às mãos de israelitas.
"Ouvimos aqui dizer que o ano passado foi o ano mais mortal para os palestinianos. Ouvimos isso tanto do representante da Palestina, quanto do senhor Tor Wennesland [coordenador da ONU]. E lemos isso em vários relatórios da ONU. No entanto, esses números e estatísticas não são factos. Nem lá perto. Baseiam-se numa metodologia fundamentalmente falha e tendenciosa, uma metodologia de discriminação que Israel se recusa a aceitar", disse Erdan.
"Ao compilar essas estatísticas distorcidas e dados falsos, a ONU considera todas as reivindicações palestinianas de morte e ferimentos pelo valor de face. Nenhuma investigação ou verificação de factos é feita. (...) Além disso, esses relatórios e números carecem de qualquer contexto, e o contexto é o que faz a diferença. O resultado é uma compilação de mentiras e meias verdades que contam uma história inventada", acrescentou.
No início do debate, Tor Wennesland fez um ponto da situação do conflito entre Israel e Palestina, afirmando que um perigoso ciclo de violência persiste no terreno, num momento em que aumenta a tensão política e o processo de paz está estagnado.
No total, entre 08 de dezembro e 13 de janeiro, 14 palestinianos, incluindo cinco crianças, foram mortos e 117 palestinianos, incluindo três mulheres e 18 crianças, foram feridos pelas forças de segurança israelitas durante manifestações, confrontos e operações de busca e prisão, indicou o coordenador especial da ONU.
Wennesland disse, citando fontes de Israel, que também cinco civis israelitas, incluindo três mulheres, e quatro membros das forças de segurança de Israel foram feridos por palestinianos em ataques, confrontos, lançamento de pedras e 'cocktails molotov' e outros incidentes.
"Uma alta proporção de vítimas palestinianas ocorreu durante as operações de busca e apreensão israelitas, inclusive na Área A da Cisjordânia ocupada", acrescentou o coordenador, apresentando o contexto sobre algumas das mortes registadas.
Tor Wennesland manifestou também "particular choque" com o facto de as crianças continuarem a ser vítimas deste conflito, reiterando que os perpetradores de todos os atos de violência devem ser responsabilizados e levados rapidamente à justiça.
Já o embaixador da Palestina, Riyad Mansour, que participou no debate como Estado Observador, disse acreditar "que a paz é cada vez menos provável, mas que ainda é possível".
Mansour apelou aos membros do Conselho de Segurança da ONU e à comunidade internacional que atuem nesse sentido e que, se alguma vez tiveram dúvidas sobre agir ou optarem pela abstenção, que "consultem a situação no terreno e vejam o que a inação faz".
Num duro confronto na ONU entre os dois diplomata, um dos focos foi a recente resolução promovida pelos palestinianos para pedir ao Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) um "parecer consultivo" sobre a ocupação e subsequentes represálias israelitas.
Esse texto, aprovado pela Assembleia-Geral da ONU no final de dezembro, levou o Governo de Israel a impor uma série de sanções à Autoridade Palestiniana, inclusive financeiras.
Nesse sentido, dezenas de países, entre eles Portugal, exigiram na segunda-feira o levantamento das sanções adotadas por Israel contra a Autoridade Palestiniana, em retaliação a uma resolução da Assembleia-Geral da ONU sobre a ocupação israelita de territórios palestinianos.
Em comunicado, dezenas de Estados-membros da ONU reafirmaram o "seu apoio inabalável" ao CIJ e ao direito internaciona e expressaram a sua "profunda preocupação com a decisão do governo israelita de impor medidas punitivas contra o povo palestiniano".
Ao longo do debate de hoje, vários países voltaram a posicionar-se contra essas medidas do Governo de Israel contra a Autoridade Palestina.
"Israel acredita que o mundo não pode responsabilizá-lo pelas suas ações unilaterais ilegais e, no entanto, permite-se punir-nos por recorrermos a mecanismos multilaterais legítimos", protestou Riyad Mansur na reunião de hoje.
Mansur acusou ainda Israel de responder desproporcionalmente, referindo-se a esse movimento como um ato de "terrorismo político" e agradeceu o apoio de cerca de "cem países" que apoiaram a declaração criticando a retaliação israelita.