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As criptomoedas vieram para ficar!

A queda da FTX teve um efeito em cadeia que afundou todo o mercado de criptomoedas

Se tivesse de escolher um marco económico para 2022, escolheria muito provavelmente a queda da maior plataforma de trading de criptomoedas, a FTX. Ocorreu já no fim do ano, em novembro, com uma notícia avançada pela Coindesk (site de notícias cripto), onde davam conta que parte significativa do balanço da FTX, era composto por FTT e Solana. Esta notícia levantou preocupações entre os investidores sobre a possível falta de liquidez da FTX, pois já era conhecido e muito criticado o uso do colateral do próprio token FTT e Solana por esta plataforma, acabando por ditar a sua falência.

Esta minha escolha não tem nada a ver com o meu ceticismo nas criptomoedas, nem com um possível autoelogio “eu bem dizia”, mas porque em muitas formas, considero que foi a melhor coisa que poderia ter acontecido para o futuro das moedas digitais. Naturalmente estou solidário com as instituições e pessoas que perderam dinheiro com a derrocada da FTX, mas sempre considerei que quanto mais cedo tivesse ocorrido um evento deste tipo, mais protegidas permaneceriam as pequenas poupanças. Se recuarmos 5 anos, as criptomoedas estavam ainda muito distantes dos poucos aforradores comuns que até já tinham ouvido falar nestes ativos. Grande parte destas pessoas não entendiam muito bem o que implicava o mundo cripto nem como investir nele.

A queda de um gigante do mercado cripto, ocorrendo numa fase inicial de amadurecimento destas moedas, permite limitar as perdas aos investidores profissionais, o que acaba por poupar o investidor comum e os pequenos aforradores, caso isto tivesse ocorrido numa fase de maior maturidade do mercado e das divisas.

A queda da FTX teve um efeito em cadeia que afundou todo o mercado de criptomoedas atirando-o para valores que já não se viam há muitos anos.

A falência de uma das maiores plataformas de trading de criptomoedas do mundo, veio relembrar os perigos existentes neste mercado, e acabou por provar que até os investidores experientes e os players mais respeitados podem esconder práticas questionáveis ou até ilegais. Ficou claro que é impossível controlar este tipo de práticas devido ao véu opaco que envolve estes ativos e a sua falta de relação com a economia real.

Esta falência, que acabou por ser uma “implosão controlada”, amplificou a vontade de redirecionar as criptomoedas para a regulação. A queda da FTX veio reforçar a necessidade de transparência, proteção do investidor e da fixação de protocolos de compliance, necessários para transformar um mercado anarquista num mercado seguro para todos. As criptomoedas vieram para ficar, e o seu futuro depende muito da robustez que possa vir a ser induzida no sistema onde são geradas e comercializadas.

No entanto, também me parece importante ter em conta a génese das criptomoedas, para não cair no erro de aplicar o conceito one size fits all e regular todas as divisas sob a mesma batuta. Os reguladores têm de encontrar um equilíbrio capaz de proteger o investidor comum sem alterar o código genético das criptomoedas. Só assim teremos um mercado dinâmico e inovador, reforçado com a necessária segurança para o investidor, que só um mercado regulado pode oferecer.