'Sem malícia'!?
Sérgio Marques suicidou-se politicamente. A Madeira agradece que seja consequente
Boa noite!
Sérgio Marques é deputado da Nação, mas antes esteve nos parlamentos regional e europeu. Na Madeira, para além de beneficiar dos grupos empresariais que resolveu criticar, passou por quase todos os cargos de governação, mas agora, já com algumas reformas no bolso e património gerador de admiração, o que o coloca entre os políticos mais ricos no activo, queixa-se de tudo e todos. Poderá estar de barriga cheia, mas a questão impõe-se: o que tinha Sérgio Marques antes de entrar para a política?
Sérgio Marques foi copiosamente cilindrado nas internas do PSD-M, mas mesmo assim foi estranhamente escolhido para secretário regional do Equipamento Social, cargo que deixou após dois anos sem obra, nem marca. Quis acabar com betão, como era lema da Renovação, e por manifesta incapacidade em inventar, foi posto a andar temporariamente, assumindo na altura que tal se deveu a “rearranjo” na orgânica do executivo, tendo-lhe sido dado depois lugar elegível na lista à Assembleia da República. A questão impõe-se: o que leva Sérgio Marques a ser uma espécie de sempre em pé na política regional?
Sérgio Marques deu declarações ao DN denunciando “obras inventadas” na Madeira, pressões sobre o poder e protecção desmedida dada aos grupos económicos, expedientes que, a serem provados, contaram com a sua cumplicidade. Do PS obteve já a garantia que haverá inquérito ao que lhe ia na alma, mas do PSD-M, partido cujo líder admitiu expulsar quem fizesse confusão, primeiro, obteve silêncio, logo, aparente consentimento rumo ao habitual branqueamento e, depois, através de Miguel Albuquerque, uma bíblica, mas não explícita acusação de traição que abre a porta de saída. A questão impõe-se: a que se deve tanta tolerância e alguma cerimónia social-democrata madeirense em relação a Sérgio Marques?
Sérgio Marques, conhecido por ter a mania de perseguição, passou o domingo em justificações e a pior de todas foi alegar que muito do que saiu no DN foi dito em ‘off’. Ou seja, não só assume que o ressabiamento é indesmentível, como confessa que não os teve no sítio para admitir com as palavras todas o que pensou. O problema é que, desta forma impensada, típica de amadores embora porventura admissível na imberbe ‘jota’, fez uma acusação grave ao jornalista, que pela sua experiência, sabe bem o que é ‘on’ e ‘off’, o que é cumprir com as elementares regras da missão de informar e o que é conviver com gente bipolar. Como a coragem política não é qualidade dos que se acanham perante os efeitos mediáticos do oportunismo saloio, a questão impõe-se: quando é que Sérgio Marques assume que não precisa mais da política?
Sérgio Marques acusa a comunicação social regional de ser submissa e controlada pelos grupos económicos, talvez porque, exceptuando as excentridades mais recentes, quase nunca é notícia, o que espelha bem a sua ‘actividade’ em São Bento. Como é público, de jornais não percebe nada, já que revelou incapacidade para gerir o que lhe coube em sorte, e por isso não precisa de provar em local indicado e de forma concreta mais um disparate. Basta lembrar que tutelou a pasta que tinha o Jornal da Madeira como herança, um dossier resolvido apenas depois de implorar para que Avelino Farinha lhe salvasse a face, mesmo que a preço simbólico, mas com custos incluídos. A questão impõe-se: quando é que Sérgio Marques assume os seus méritos no processo que agora tenta desacreditar?
Sérgio Marques, também apelidado de ‘sem malícia’, até pode ter feito, mais uma vez, jus à fama que vem de longe. Mas suicidou-se politicamente. A Madeira agradece que seja consequente. Logo, entre muitas outras, esta questão impõe-se: quando é que Sérgio Marques deixa a Assembleia da República?