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Números, em vez de substância

Incomoda-me, há muitos anos, a absoluta fixação em números evidenciada pelas autoridades de turismo da Região. Mas o que me incomoda mesmo é a fixação pelos números errados, e pelos critérios adoptados em relação a isso…

Vejamos… os mais inúteis dos navios de cruzeiro, em termos de criação de valor acrescentado para a Região, são quem tem prioridade, só porque a visitam mais vezes… não seria mais sensato dar prioridade a quem gera mais rendimentos? Ou mesmo a quem promove mais facturação? Que diferença me faz que A visite a Madeira mais vezes do que B, se A não traz nada de novo, e se os turistas que transporta partilham um café porque dois são demasiado caros? Se A traz a bordo todos os meios de animação para os clientes, de forma que as empresas locais, que pagam os impostos e as infraestruturas locais, ficam a ver navios?

Isto é de tal maneira gritante, que as bicicletas com que se fazem estas actividades não cumprem a lei local, em termos, por exemplo, de acessórios, e os seus utilizadores fazem gato sapato das leis locais, deslocando-se sistematicamente sobre passeios, ao contrário em sentidos únicos, e violando sistematicamente sinais vermelhos.

Porquê a fixação nos turnarounds na Madeira? Os turnarounds interessam aos operadores e a mais ninguém… ocupam slots no aeroporto, e aumentam a já de si alta pressão sobre estruturas (nomeadamente porto e aeroporto) e vias de comunicação (as estradas que ligam um ao outro).

Os números que interessam, em termos de turismo, não é de quantos turistas nos visitam, mas sim quanto gastam, e nomeadamente quanto do que gastam acaba na economia local. Porque os gastos totais ficam, na maioria dos casos, e na sua maior expressão, na mão dos operadores…

É preciso avaliar os esforços feitos, mas os benchmarks não podem ser só número de visitantes… é preciso desenhar quadros de avaliação mais abrangentes, e apontar para alvos quantificáveis, mas acima de tudo qualitativos. É preciso também, antes de se fazer qualquer acção no futuro, saber o que procuram os nossos visitantes – e se a resposta for “mais natureza”, ou “melhor natureza”, ter a coragem de decidir não fazer, independentemente de quem fique melindrado com isso.