Morreu o treinador de natação Shintaro Yokochi aos 87 anos
O treinador de natação Shintaro Yokochi morreu hoje aos 87 anos, anunciou a Federação Portuguesa de Natação (FPN), lembrando-o como "uma das mais importantes figuras do desporto português", tendo treinado o filho, Alexandre.
Shintaro teve como "expoente máximo", nota a FPN, a participação de Alexandre Yokochi na final dos 200 metros bruços em Los Angeles1984, até hoje a única final da natação portuguesa em Jogos Olímpicos.
"À família enlutada, a direção da FPN apresenta as mais sinceras condolências", pode ler-se em comunicado, que não revela a causa da morte.
Yokochi, nascido em 31 de outubro de 1935 em Yokohama, sobreviveu ao rebentamento da primeira bomba atómica, em Hiroshima, no dia 06 de agosto de 1945, e em 1958 mudou-se para Portugal, acabando por se radicar no país.
Enjeitou uma possível participação nos Jogos Olímpicos Roma1960, como nadador, para se tornar treinador, aos 22 anos, da equipa de natação do Sport Algés e Dafundo.
Um contacto do clube com a Embaixada do Japão levou a que, do outro lado do mundo, Yokochi tivesse conhecimento da possibilidade, que se concretizou, a princípio apenas por três meses, que se foram prolongando.
Licenciado em economia política, dedicou-se ao país e foi em Portugal que passou década atrás de década de vida, enquanto formava, na seleção e nos clubes por onde passou, alguns dos melhores nadadores portugueses de sempre, com o filho à cabeça, mas também outros nomes como Bessone Basto.
Casou e constituiu família em Portugal, com Alexandre a seguir-lhe as pisadas como nadador, tendo conseguido uma medalha de prata em Europeus para Portugal, entre numerosos outros feitos com o sétimo lugar em Los Angeles1984 como apogeu.
Na carreira tem uma passagem pelo FC Porto até se mudar para o Benfica, em 1972, passando a treinar o filho, que abandonou a competição de elite em 1992 e hoje é professor universitário nos Estados Unidos.
Liderou a comitiva de natação nos Jogos Olímpicos Tóquio1964, num processo envolto em polémica, recordou em entrevista ao Expresso, tendo treinado a equipa escassos dias antes da competição, com os resultados a ficarem aquém das expectativas.
"Fiquei de tal maneira revoltado que decidi permanecer em Portugal para mostrar que era capaz de treinar uma grande equipa para os Jogos Olímpicos", declarou.
A mulher, Irma Delgado, e os três filhos acabaram por mantê-lo em Portugal, tendo-se entregado à natação, considerando que lhe dedicou "toda a vida".
Deu aulas de natação na Academia Militar, formou a equipa do FC Porto, trabalhou diretamente com nadadores de elite e, no Benfica, criou o mais consagrado dos portugueses, para viver, naquela final em Los Angeles, "um dos momentos mais felizes" da vida, lembrou.
Além da natação, teve empresas de exportação e um restaurante em Lisboa, chegou a participar em campeonatos de veteranos, com a vida marcada pela guerra e pela memória da bomba atómica.
"Ainda hoje sonho com a guerra e com a bomba. Passei momentos dramáticos que nunca irei esquecer", contou, ao Expresso.