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Manifestantes e polícia enfrentam-se em protesto contra expansão de mina na Alemanha

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Centenas de manifestantes e forças policiais permaneciam ontem frente a frente junto à maior mina a céu aberto da Alemanha, após um protesto contra o reinício da exploração de carvão ao qual se juntou a ativista sueca Greta Thunberg.

À margem de uma manifestação que reuniu vários milhares de pessoas -- 35.000 segundo os organizadores, 15.000 segundo a polícia --, centenas de militantes anti-carvão tentaram penetrar nas zonas proibidas da mina de lignite perto de Lutzerath, oeste do país, uma povoação que deverá ser demolida para a ampliação do complexo mineiro.

Algumas centenas de ativistas permaneciam na zona interdita, junto a um enorme declive, rodeados pela polícia de intervenção, apesar da lama, da chuva e da obscuridade que se abateu no local.

"As barreiras da polícia foram quebradas. Às pessoas presentes em Lutzerath, saiam dessa zona imediatamente", exortaram os responsáveis policiais em mensagem no Twitter.

"A polícia recorreu a canhões de água e ainda tentou impedir o acesso dos manifestantes", indicou no final da tarde um responsável policial citado pela agência noticiosa AFP.

As forças policiais também se posicionaram no acesso à localidade abandonada de Lutzerath, cercada por barreiras metálicas e ocupada por dezenas de ativistas que a polícia tenta desalojar desde há vários dias.

A manifestação foi organizada em apoio aos ativistas que apoiam esta localidade, e simbolicamente liderada pela ativista sueca Greta Thunberg.

Situada na bacia do Reno entre Dusseldorf e Colónia, este local deverá desaparecer para permitir a expansão da mina de lignite explorada pela empresa energética alemã RWE.

"É vergonhoso que o Governo alemão conclua acordos e compromissos com empresas como a RWE", declarou Greta Thunberg quando se dirigiu aos manifestantes desde um palco erguido junto à mina.

"O carvão de Lutzerath deve permanecer no solo", prosseguiu, e apelando para que o clima não seja sacrificado "pelo crescimento a curto prazo e a avidez das empresas".

A ativista sueca também criticou o sacrifício de vidas humanas "pelo benefício de muito poucas pessoas incrivelmente ricas" e questionou como é possível "que em 2023 se siga um caminho que conduz a nada".

A multidão de manifestantes, que a escutavam num dia chuvoso, exibia diversos cartazes, alguns com as frases "Stop a carvão" ou "Lutzerath vive".

No interior do acampamento da localidade onde permaneciam os ativistas climáticos, as forças policiais prosseguiram hoje os trabalhos de desmantelamento e expulsão dos últimos resistentes.

Segundo um porta-voz do movimento, entre 30 a 40 militantes ainda se encontravam no local na noite de sexta-feira.

A operação de evacuação da povoação iniciada esta semana mobilizou reforços policiais provenientes de toda a Alemanha, enquanto eram registadas diversas ações de desobediência civil em todo o país nos últimos dias.

Na sexta-feira, em Berlim, ativistas com o rosto coberto incendiaram contentores de lixo e escreveram frases na fachada da sede dos Verdes.

Este partido político integra a coligação governamental liderada pelo social-democrata Olaf Scholz, acusado pelos militantes de os ter traído ao assinar um compromisso com a RWE que permite a destruição de Lutzerath, em troca do fim do uso do carvão até 2030, em vez de 2038, e quando os habitantes da localidade já foram expropriados há alguns anos.

O Governo considera necessária a extensão da mina para a segurança energética da Alemanha e que deve compensar a interrupção da entrega de gás russo.

Na perspetiva dos contestatários, as reservas de lignite existentes são suficientes.

Um recente estudo do Instituto Alemão de Investigação Económica questionou a posição do Governo, depois de ter sido divulgado que outros campos de carvão existentes poderiam ser usados, embora o custo para a RWE fosse maior.

Outra alternativa seria a Alemanha aumentar a produção de energia renovável, reduzir a procura através de medidas de eficiência energética ou importar mais carvão ou gás a outros países, segundo o mesmo estudo.

Com base nas conclusões do estudo, e alertando para a necessidade urgente de reduzir as emissões de carbono, os manifestantes recusaram-se a aceitar a decisão judicial desta segunda-feira, que efetivamente os baniu daquela localidade.

Ontem, o coletivo português ambientalista Climáximo solidarizou-se em comunicado com os ativistas que defendem Lutzerath e que defendem "a vida contra o lucro".

O coletivo acusa o Governo alemão de fingir precisar da zona "de sacrifício para reduzir a dependência fóssil da Rússia, enquanto mantém o padrão de dependência fóssil" que leva "ao colapso do clima".

Em causa, acrescentam os ativistas do Climáximo, não está cuidar da vida de milhões de pessoas, mas cuidar dos "milhões nas contas de alguns". "Só há uma solução para o gás, petróleo e carvão: deixá-los no chão", conclui o movimento.