Análise

Vassourada psicológica

Em época de varrer armários há quem prefira conspurcar as redondezas

Os resultados suspeitos em diversos domínios da nossa realidade insular obrigam a uma vassourada psicológica transversal, uma espécie de ‘chicotada’ futebolística adequada à nossa tradição de ‘varrer armários’, de modo a libertar muita boa gente da tensão gerada pela obrigatoriedade de vencer eleições seja lá como for, da agonia manifesta sempre que é preciso mostrar trabalho e da intolerância crescente em relação ao pluralismo das opções. Mas também uma vassourada destinada a despertar consciências para as escolhas acertadas, a elevar a auto estima de um povo que já foi catalogado de superior mas que, de quando em vez, bate no fundo com estrondo, nalguns casos sem culpa própria, devido às lideranças sem estofo que provocam a desorientação colectiva ou às promessas que continuam por cumprir e que originam uma desilusão legítima que, por sua vez, potencia a abstenção, e com ela o desleixo e os populismos, o vazio e o desgoverno. Se é verdade que é crescente a propensão para a delinquência numa sociedade que varre os diferentes sem escrúpulos mas nem sempre lhes resolve o futuro, que não acautela os equilíbrios sociais julgando que tudo se resolve com subsídios eleitoralistas, que fomenta o ódio quando devia semear diálogo e o entendimento e que até se escandaliza com a marginalidade ditada pelo consumo abusivo de álcool ou de drogas e pela falta de saúde mental, também é alarmante perceber que o risco é severamente acrescido se nos colocarmos a jeito, ou seja, nas mãos de incompetentes e aluados, de gente cadastrada e vingativa e de eternos candidatos preconceituosos focados no ajuste de contas. Nesta encruzilhada importa ser cada vez mais exigente e atento, dotados de mecanismos de escrutínio sistemático e sentido. De pouco nos serve varrer armários que já tiveram fartura abundante ou guardaram as melhores coisas para a ‘festa’ se depois, de barriga farta e vistas curtas, vamos adiando o que carece de resolução urgente, comprometendo a transparência e prescindindo do bom senso. Numa semana em que a palavra dada por um deputado da Nação, que é vice-presidente da bancada parlamentar da maioria, parece valer menos do que os comentários de circunstância sobre alegadas reduções no contigente insular de acesso ao ensino superior, ficamos esclarecidos sobre o que motiva muita gente a estar na política. Numa semana em que se falou mais dos corruptos que no serviço público se servem de forma exaustiva até serem apanhados e dos ricos da política que em vez de fazerem crescer a riqueza nacional engordam a conta bancária e o património pessoal, ficamos convencidos que as 36 perguntas destinadas a avaliar a idoneidade dos que forem chamados a governar não serão suficientes. Numa semana em que o reforço da segurança rodoviária no Funchal foi tema de capa no DIÁRIO e a cidade assistiu incrédula a um atropelamento com fuga em plena baixa e viu mais um carro em contramão a gerar o caos na via rápida desta Região que passou a liderar o aumento de acidentes de viação, ficamos perturbados com mais uma prova inequívoca da adulteração de valores essenciais e de como muita gente continua por inaugurar.