Bispos católicos pedem esperança perante profunda crise na Venezuela
A Conferência Episcopal Venezuelana (CEV) exortou hoje a população a manter a esperança e a passar da lamentação à ação perante a profunda crise na Venezuela, que forçou mais de sete milhões de cidadãos a emigrar.
"Não deixemos que nos roubem a esperança. É essencial que passemos da lamentação à ação libertadora", referem, adiantando que "o país continua a passar por uma profunda crise política, social e económica, um cenário que põe em causa o modelo de gestão que tem guiado o destino da nação durante mais de vinte anos".
"Estão a surgir novas elites económicas. Áreas de Caracas e, em menor grau, de outras cidades, mostram o que se tem chamado de 'bolha', resultante de uma espécie de 'capitalismo socialista selvagem', que contrasta e é ofensivo para professores, profissionais da saúde, operários, trabalhadores informais e pensionistas, que tentam subsistir com rendimentos paupérrimos, e faz que a brecha de desigualdade entre ricos e pobres seja cada vez mais escandalosa", explicam os bispos.
Em comunicado, a CEV insiste na necessidade de "procurar respostas para a realidade" e que "a reconstrução material, moral e espiritual, política e ético-cultural é um dever primário ineludível de todos" e requer "que as instituições democráticas recuperem a sua credibilidade e capacidade de ação honesta e eficiente".
"Com uma das taxas de inflação mais elevadas do mundo e uma moeda nacional em contínua desvalorização, a vida quotidiana dos venezuelanos está a tornar-se cada vez mais complicada. Esta situação já obrigou mais de 7 milhões de pessoas a deixar o país (...), gerando o maior fluxo migratório da América Latina e das Caraíbas nos últimos 50 anos", lê-se no documento.
A CEV explica ainda que esse "êxodo, especialmente de jovens, não se detém, e empobrece o presente e o futuro do país" e expressa gratidão pelo acolhimento e atenção que os migrantes têm recebido em diferentes países do mundo.
Os bispos insistem que "as diferentes forças e partidos devem partilhar a sua responsabilidade pela verdade e justiça, tendo sempre em conta as exigências do bem comum" e que "o desejo de não ceder para não parecer fraco, bem como a falta de escuta mútua e a pretensão de ser a única medida de justiça, bloqueiam o diálogo, as soluções e o desenvolvimento estável e pacífico".
A CEV pede aos venezuelanos que "acordem e reajam" e sublinha que "o caminho a transitar é o das negociações genuínas e sinceras para chegar a acordos entre os poderes do Estado e as forças sociais democráticas" em questões como "a ajuda humanitária, a libertação dos presos políticos, o funcionamento constitucional dos poderes públicos, a reabilitação dos partidos políticos, garantias eleitorais com observação internacional plural e imparcial".