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Sônia Guajajara e Anielle Franco tomam posse numa cerimónia cheia de simbolismo

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A nova ministra dos Povos Indígenas e a ministra da Igualdade racial tomaram hoje posse com a presença de Lula da Silva, Numa cerimónia cheia de simbolismo no Palácio do Planalto, quatro dias dos ataques de radicais neste mesmo lugar

O salão do Palácio do Planalto estava lotado, cheio de diversidades culturais, para assistirem ao momento inédito influente líder indígena brasileira Sônia Guajajara tornar-se ministra dos Povos Indígenas e da ativista dos direitos humanos, jornalista, escritora e educadora Anielle Franco, herdeira política da sua irmã, a conselheira carioca assassinada Marielle Franco, tornar-se ministra da Igualdade Racial.

Passados quatro dias ainda são visíveis os estragos causados no domingo por parte dos extremistas radicais. Apesar das intensas limpezas e restauros, ainda se encontram vestígios do ataque ao coração da Republica brasileira.

Grande parte do Planalto está sem vidros, sofás rasgados e escombros da destruição, apesar de poucos e arrumados ao canto, ainda se vislumbram.

O aparato policial é imenso, com as forças de segurança em volta do Palácio com escudos e armas de fogo. A revista dos convidados foi feita a pente fino na entrada do Palácio do Planalto que tem as vias de acesso praticamente cortadas, assim como toda a Esplanada dos Ministérios que culmina da Praça dos Três Poderes.

No início da cerimónia, com a presença de Lula da Silva e de vários ministros, djuena Tikuna, cantora e jornalista do estado do Amazonas nascida na região do Alto do solimões, maior população indígena da amazónia, cantou o hino brasileiro na sua língua nativa.

A primeira a subir ao placo, foi Sônia Guajajara, filha de pais analfabetos e mãe de três filhos, um dos rostos mais distintos do movimento indígena a nível internacional, reconhecido pela revista Time e eleita deputada federal nas eleições legislativas de 02 de Outubro.

Subiu ao palco e disse: "Estamos aqui de pé a dizer que não nos vamos render", enaltecendo o facto de ela e de Anielle estarem a assumir ministérios tão simbólicos, um "símbolo da resistência secular preta e indígena do nosso Brasil".

Falou depois contra os radicais que atacaram os três poderes: "não vão destruir a nossa democracia", convocando depois "todas as mulheres do Brasil" para nunca mais permitirem "um outro golpe no nosso país".

"Sem amnistia", gritou, referindo-se aos criminosos de domingo, num grito que foi acompanhado por todos os presentes.

Depois, a mulher do povo Guajajara/Tentehar que ainda conserva um pouco da floresta amazónica, graças ao trabalho dos chamados "guardiões da floresta", frisou que "o desprezo por outras formas de vida, as práticas de desmatamento intenso feito sempre em nome de economia de curto prazo tem efeitos devastadores" para o país.

"Sabemos que não será fácil superar 522 anos [chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil] em quatro mas estamos dispostos a fazer a grande retomada da força ancestral da Alma e espírito brasileiro, nunca mais um país sem nós", concluiu a agora ministra, escolhida em 2022 pela revista Time como uma das 100 personalidades mais influentes do mundo, Sônia tornou-se a porta-voz mais incisiva contra os abusos e ameaças sofridos pelos Guajajara e outros grupos étnicos do país.

"Boa noite a todas, todos e todes" e à "minha eterna presidenta Dilma", começou assim o discurso da nova ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, de 37 anos, que retomou a luta da sua irmã pelos direitos humanos, negros, mulheres, homossexuais e da população das favelas desde a morte de Marielle, que foi morta a tiro em março de 2018 num crime ainda impune, que chocou o Brasil e teve amplas repercussões internacionais.

"O fascismo, assim como o racismo é um mal a ser combatido", disse, lembrando os ataques ocorridos do domingo, frisando depois, sem conseguir conter as lágrimas, que defende "um projeto de país, onde uma mulher negra possa permanecer em diferentes espaços de tomada de decisão sem ter a sua vida ceifada com cinco tiros na cabeça", como aconteceu à sua irmã.

Um discurso interrompido por palavras de ordem exigindo que os autores do assassinato da sua irmã fossem identificados e condenados.

"A política da guerra nas favelas e nas periferias nunca funcionou", alimenta apenas um ciclo de violência e miséria, disse.

"Apesar da maioria da população se autodeclarar negra é possível observar que os brancos ocupam a maior parte dos cargos gerenciais, dos empregos formais e dos cargos eleitos", frisou.

"Enquanto houver racismo não haverá democracia", frisou, recebida por uma salva de palmas.