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Ex-Presidente Temer considera invasão "agressão inominável aos poderes do Estado"

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O ex-Presidente brasileiro Michel Temer considerou hoje que a invasão de apoiantes do ex-chefe de Estado Jair Bolsonaro aos edifícios públicos de Brasília "foi uma agressão inominável aos poderes do Estado", afirmando ter sido "uma agressão à democracia".

"(...) O que ocorreu nos últimos dias [domingo] foi uma agressão inominável aos poderes do Estado, porque a invasão de prédios não é apenas uma coisa física, é uma agressão aos poderes do Estado que garantem a democracia e, portanto, é uma agressão à própria democracia", disse Temer em entrevista à RTP3.

Olhando com "muita tristeza cívica e com muita tristeza institucional" para o que aconteceu no passado domingo na capital brasileira, o também ex-vice-Presidente adiantou, no entanto, que em "brevíssimo" o país vai "retomar o curso normal das coisas".

Questionado sobre possíveis responsáveis, Temer indicou haver "muita dúvida" no Brasil.

"Um dos afastamentos que seu deu foi do governador do Distrito Federal [Ibaneis Rocha]. Há o fundamento de que o secretário da Segurança Pública, que teve a sua prisão decretada, terá organizado meios e modos para impedir (...) as agressões. (...) Também se diz que a polícia rodoviária federal não tomou providências. Que houve conivência com os manifestantes (...). No Brasil ainda há muita dúvida", salientou.

Temer disse ainda que Jair Bolsonaro deveria ter reconhecido publicamente Lula da Silva como novo Presidente do Brasil.

"Devia tê-lo. Acho que não havia razão para isso. (...) Tem lá as suas razões que, para mim, são subjetivas", sublinhou.

Michel Temer, de 82 anos, foi vice-presidente de Dilma Rousseff de 2011 a 2016, mas substituiu-a no cargo de chefe de Estado (2016-2018) após a sua controversa destituição pelo Congresso, por irregularidades fiscais.

Hoje fora da vida pública, Temer foi também um respeitado parlamentar do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), de centro-direita, durante várias décadas.

Apoiantes do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro invadiram e vandalizaram no domingo as sedes do STF, do Congresso e do Palácio do Planalto, em Brasília, obrigando à intervenção policial para repor a ordem e suscitando a condenação da comunidade internacional.

A Polícia Militar conseguiu recuperar o controlo das sedes dos três poderes, numa operação de que resultaram cerca de 1.500 detidos.

A Polícia Federal brasileira informou que cerca de 600 pessoas presas acusadas de participarem nos atos, na maioria idosos com mais de 65 anos, mulheres que têm filhos pequenos e pessoas com comorbilidades graves, foram libertadas para responder em liberdade.

A invasão começou depois de militantes da extrema-direita brasileira que apoiam o anterior presidente, derrotado por Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de outubro passado, terem convocado um protesto para a Esplanada dos Ministérios, na capital brasileira.

Entretanto, o juiz do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes afastou o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, por 90 dias, considerando que tanto o governador como o ex-secretário de Segurança e antigo ministro da Justiça de Bolsonaro Anderson Torres terão atuado com negligência e omissão.

Torres é alvo de um pedido de prisão que ainda não foi cumprido por se encontrar em viagem aos Estados Unidos.