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Presidente peruana diz apoiar investigação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos

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A Presidente peruana, Dina Boluarte, manifestou hoje apoio à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) durante a visita deste organismo ao país andino com o objetivo de analisar a situação na sequência dos protestos antigovernamentais.

Boluarte manteve hoje uma reunião com uma delegação da CIDH, a convite do executivo, onde foi abordada a situação dos direitos humanos nos protestos que eclodiram no país desde dezembro, com um balanço até ao momento de 47 mortos e centenas de feridos pela atuação das forças policiais e militares.

"No encontro, a chefe de Estado ratificou o apoio do Governo à CIDH para o cumprimento da sua atividade, destinada ao esclarecimento da violência ocorrida no país, e reafirmou o compromisso para continuar a promover o diálogo e a paz social", indicou um comunicado da presidência no Twitter.

Na reunião esteve presente o vice-presidente da CIDH e relator para o Peru, Stuardo Ralón, acompanhado pelo adjunto Joel Hernandez. Boluarte fez-se acompanhar pelo chefe da diplomacia, Ana Cecilia Gervasi, e pelo ministro da Justiça e Direitos Humanos, José Tello.

O relator lamentou as mortes ocorridas nos últimos dias e afirmou que a delegação vai promover uma conferência de imprensa na sexta-feira, último dia da visita.

Na manhã de hoje, outro grupo da CIDH viajou para a região de Iça, sul de Lima, para se reunir "com vítimas e familiares e com organizações sociais".

A visita deste organismo da Organização de Estados Americanos (OEA) inicia-se dois dias após a jornada mais sangrenta desde o início dos protestos em dezembro passado, após os incidentes na cidade de Juliaca, região de Puno, terem provocado 18 mortos (incluindo um polícia), elevando o número total para 47 desde dezembro, para além de centenas de feridos.

Diversos relatos dos incidentes em Juliaca indicam que as forças policiais e militares utilizaram os designados projéteis "dum dum", conhecidos como "As flores da morte" e desenhados para destruir os órgãos internos.

"São projéteis de armas de fogo, que não têm um orifício de saída [do corpo], e os feridos e doentes surgem com os órgãos destroçados, com múltiplos danos, como se fossem balas explosivas no interior do corpo", relatou um médico nas redes sociais.

A utilização de balas explosivas está proibida pela Convenção internacional de Haia desde 1989, mas continuam a ser utilizadas em diversas operações militares.

Após estes confrontos, várias organizações de defesa dos direitos humanos, incluindo a Amnistia Internacional (AI) e o gabinete do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos (ACNUDH) exortaram as autoridades a terminar com o "uso indevido da força contra a população civil" e assegurar o respeito pelos direitos humanos.

Por sua vez, o Governo peruano formalizou hoje a imposição do recolher obrigatório na zona de Puno durante três dias, desde as 20:00 às 04:00, hora local, e declarou um dia de "luto nacional".

As manifestações no Peru regressaram na passada quarta-feira, após uma pausa nos protestos desencadeados no início de dezembro.

Entre outras reivindicações, os manifestantes exigem a antecipação das eleições, marcadas pelo novo Governo para a primavera de 2024, a dissolução do Congresso, a convocação de uma assembleia constituinte, a demissão de Boluarte do cargo de Presidente e a libertação do ex-presidente Pedro Castillo, no poder entre 2021 e 2022 e condenado a 18 meses de prisão preventiva sob a acusação de promover um "golpe de Estado".