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Duas espanholas ligadas ao Estado Islâmico em prisão preventiva após repatriamento

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A justiça de Espanha decidiu hoje colocar em prisão preventiva as duas espanholas casadas com elementos da organização terrorista Estado Islâmico repatriadas na segunda-feira desde a Síria com 13 menores que tinham a seu cargo.

As mulheres estão a ser investigadas por um possível crime de integração em organização terrorista e o juiz que hoje as ouviu optou por as colocar em prisão preventiva, segundo fontes judiciais citadas pelos meios de comunicação espanhóis.

As mulheres foram detidas na segunda-feira à noite à chegada a Espanha, para serem presentes a um juiz, e os 13 menores entregues a serviços socais do estado.

O Ministério Público pediu também para serem retirados os direitos parentais às duas mulheres, mas o juiz não acedeu ao pedido e justificou que ao ficarem em prisão preventiva "não existe risco potencial de continuarem com um possível doutrinamento dos filhos", segundo a decisão judicial que citam os meios de comunicação espanhóis.

Já a prisão preventiva justifica-se, segundo o juiz, por haver risco de fuga e de repetição do crime de que são suspeitas.

O juiz argumentou que estas mulheres são suspeitas de terem integrado uma célula do Estado Islâmico (também conhecido como Daesh) que operava em Madrid e que tinha como missão o recrutamento de elementos para a organização terrorista, a sua doutrinação dentro dos princípios radicais do grupo e posterior envio para a Síria e o Iraque para cometerem atentados.

As duas espanholas, ainda segundo o juiz, terão participado em atividades em benefício do Daesh, tanto em Espanha como depois de terem viajado com os maridos, em 2014, para a Síria e o Iraque.

O juiz invoca ainda vídeos publicados pelo jornal El País com testemunhos das duas mulheres que, para o magistrado, provam que integravam ativamente o Estado Islâmico e o "compromisso" que tinham com a organização terrorista.

O advogado que hoje defendeu as duas espanholas tinha pedido para ficarem em liberdade e defendeu que tinham ido para a Síria para estarem com os maridos e os filhos, mas não para integrarem o Estado Islâmico.

O mesmo advogado disse, em declarações a jornalistas, que vai pedir que a tutela dos menores que estas mulheres tinham a seu cargo seja entregue aos avós.

As duas espanholas e os 13 menores estavam há anos num campo de prisioneiros na Síria e chegaram na segunda-feira à noite a Espanha, um dos países europeus que recusava, até agora, fazer estes repatriamentos.

Os menores têm entre 3 e 15 anos de idade, nove são filhos destas mulheres repatriadas e outros quatro, também de nacionalidade espanhola, estavam a cargo de uma delas no campo de prisioneiros.

O Estado Islâmico conquistou a partir de 2014 largas zonas do Iraque e da Síria, onde proclamou um califado no qual impôs um regime de terror baseado numa ideologia islamista fundamentalista, até que foi derrotado com a ajuda de uma coligação internacional, encabeçada pelos Estados Unidos, em 2017, no Iraque e, em 2019, na Síria.

Estas duas espanholas foram detidas em 2019 e estavam num campo de prisioneiros no nordeste da Síria, controlado por forças curdas, desde, pelo menos, 2020.

A Síria está dividida pela guerra que começou em 2011: o regime do Presidente Bashar al-Assad retomou a maior parte do território, mas as forças curdas sírias controlam grandes áreas do norte e do nordeste do país.

Organizações não-governamentais (ONG) têm denunciado a situação humanitária nos campos de prisioneiros na Síria, onde vivem dezenas de milhares de mulheres e menores, com apelos ao repatriamento para os países de origem.