ONU manifesta preocupação pelo aumento da violência das forças de segurança
O gabinete dos direitos humanos da ONU manifestou hoje "profunda preocupação" pelo aumento da violência das forças policiais e militares no Peru, que na segunda-feira registou o dia mais mortífero desde o início dos protestos no início de dezembro.
Em comunicado, a porta-voz do gabinete do alto comissário para os Direitos Humanos recorda que desde 07 de dezembro já foram mortas 40 pessoas e 518 feridas nos confrontos com forças policiais e militares.
"Destas, de acordo com relatórios oficiais, pelo menos 17 pessoas foram mortas na segunda-feira, incluído um menor, em Juliaca, região de Puno no sul, e um agente da polícia foi morto terça-feira [hoje] quando o seu veículo foi atacado", disse a porta-voz Marta Hurtado.
O comunicado exorta as autoridades a promoverem "imediatas, imparciais e efetivas investigações sobre os mortos e feridos, a indiciarem os responsáveis e assegurarem às vítimas acesso à justiça e a indemnizações".
Após apelar aos manifestantes que demonstrem "contenção no exercício do seu direito fundamental de manifestações pacíficas", o gabinete dos direitos humanos da ONU recorda que os direitos à liberdade de expressão e a manifestações pacíficas "devem ser respeitados e protegidos, pelo facto de constituírem elementos essenciais da vida democrática".
O texto recorda ainda a decisão do Governo de enviar uma "missão de alto nível" a Puno e o anúncio de uma "plataforma de diálogo nacional".
Também hoje, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) condenou a morte de pelo menos 17 pessoas nos protestos antigovernamentais de segunda-feira na cidade de Juliaca, no departamento de Puno e perto da fronteira com a Bolívia.
"A CIDH condena a morte de pelo menos 17 pessoas nas imediações do aeroporto de Juliava em 09 de janeiro, onde também se registaram dezenas de pessoas feridas", indicou a organização na sua conta Twitter.
Na mesma mensagem, a Comissão exorta o estado peruano a "adotar medidas imediatas para prevenir e sancionar o uso excessivo da força nos protestos sociais".
Em paralelo, e na capital Lima, o primeiro-ministro Alberto Otárola, que dirige o segundo gabinete do Governo da Presidente Dina Boluarte, foi hoje ao Congresso para pedir o voto de confiança do parlamento.
Acompanhado por vários ministros, Otárola explicou as linhas gerais da sua atuação, antes de abandonar o edifício. Ministro da Defesa no primeiro e recente Governo de Boluarte, assumiu o cargo de primeiro-ministro em 21 de dezembro, em substituição de Pedro Ángulo, destituído pela nova Presidente após permanecer 11 dias no cargo.
As manifestações no Peru regressaram na passada quarta-feira, após uma pausa nos protestos iniciados nos inícios de dezembro, com um balanço de pelo menos 40 nos confrontos com as forças policiais e militares.
Entre outras reivindicações, os manifestantes exigem a antecipação das eleições, marcadas pelo novo Governo para a primavera de 2024, a dissolução do Congresso, a convocação de uma assembleia constituinte, a demissão de Boluarte do cargo de Presidente e a libertação do ex-presidente Pedro Castillo, no poder entre 2021 e 2022 e condenado a 18 meses de prisão preventiva sob a acusação de promover um "golpe de Estado".