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Adaptar ou morrer

Durante muitos anos conseguíamos ver e explicar o mundo segundo o conceito de VUCA (Volatility; Uncertainty, Complexity e Ambiguity). Este conceito foi desenvolvido logo após a guerra fria, numa tentativa de explicar a nova dinâmica que se estava a formar no mundo, e que estava a ter reflexos importantes nas empresas. No entanto, durante as últimas décadas o mundo foi ficando cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo. A falta de clareza sobre como interpretar um evento, a quantidade de fatores necessários a ter em conta nos processos de tomada de decisão e o aumento da velocidade de novos eventos, fez aumentar a dificuldade de interpretação desses eventos e as suas consequências para as empresas. Esta dificuldade tornou obsoleto o conceito de VUCA.

Este conceito deixou de ser capaz de explicar o mundo, porque têm surgido wild-cards, como a pandemia do covid-19, que já não se podem explicar como eventos instáveis, mais sim, completamente caóticos. Sendo assim, as consequências nas empresas destas wild-cards são quase impossíveis de prever. É neste contexto que surge uma nova definição de mundo: BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible). A ideia por detrás deste conceito, é a que estamos a viver num mundo onde as catástrofes podem acontecer a qualquer momento, e são suscetíveis de destruir uma empresa de um dia para o outro. A fragilidade traz consigo uma grande dose de ansiedade, que é cada vez mais presente no mundo empresarial, e já tem deixado marcas bem visíveis no mercado de trabalho. É normal que assim seja, uma vez que uma das principais lições que a pandemia do covid-19 nos deixou, foi a falta de proporcionalidade entre os eventos, as suas consequências, e as medidas utilizadas para os mitigar.

Neste paradigma de mudança e fragilidade, pensar em estabilidade é algo inalcançável e por isso as empresas têm de embarcar numa nova quimera. A grande vantagem para mitigar os riscos decorrentes de um mundo BANI, é o fortalecimento do fator humano das empresas. Procurar uma cultura colaborativa, adotando estruturas bem distribuídas e multidisciplinares, resultará numa cultura “anti-frágil”. Só assim as empresas serão capazes de se preparar para este novo paradigma de mudança constante, onde os eventos podem ser mais facilmente compreendidos se apoiados pelas novas tecnologias, obrigando-nos a dar tempo para a reflexão. É fundamental que as empresas comecem a ver a mudança de outra forma, para que possam “abraçar a mudança”. Trata-se de se entregar ao novo, sem ficarmos presos a padrões e a fórmulas do passado. Para isso, é imprescindível darmos espaço à reflexão e à participação do maior número de pessoas nos processos de tomada de decisão nas organizações.

É preciso ver a mudança como uma forma de descobrir e redescobrir potencialidades nas empresas, e de nos surpreendermos com as competências que poderão emergir, se for criada a cultura “anti-frágil” necessária para abraçar a mudança.