Lapinhas Tradicionais Madeirenses
Sim, eu continuo a dizer e a escrever sobre lapinhas tradicionais porque estão ligadas às nossas vidas e à nossa festa como madeirenses que somos.
Esta tradição é tão antiga como a Madeira, porque elas cá chegaram trazidas pelos colonizadores que povoaram a nossa ilha, o rei escolheu de preferência os algarvios e os nortenhos de Portugal, porque eram mais engenhosos no cultivo da terra e quando cá chegaram traziam consigo hábitos, costumes e tradições e que foram passados de geração em geração.
Os algarvios festejavam o natal e era usado o presépio de figuras de São Francisco de Assis, ainda hoje o fazem, enquanto os nortenhos usam a imagem do menino Jesus que guardam religiosamente dentro de um oratório e no mês de dezembro era aberto e colocado sobre uma cómoda, decorado com verduras e frutas, era um altar de oferendas.
Por cá na ilha criaram mais duas lapinhas, sim aí é que começou a se chamar lapinha porque eram diferentes, por exemplo a rochinha e a lapinha de escadinha.
O homem quando criou a rochinha e com a sua imaginação criou uma pequena maquete retratando a sua ilha, ou seja, a Madeira, no fundo criou a gruta do nascimento de Jesus e no topo um pequeno pedestal para por o menino Jesus para abençoar a nossa ilha, a lapinha de escadinha era e é colocada numa mesa de metro e em três medidas. O menino Jesus era colocado no último degrau, e aí era criado um altar de oferendas onde estava o trigo, a fruta o milho, e tudo o que era possível expôr e oferecer ao menino, era criado um arco feito de vimes enrolados e decorado com alegra campo e flores, não podia faltar as lamparinas e o azeite para iluminar o menino.
O resto já conhecemos, porque quem vê uma lapinha madeirense vê isto tudo, era uma festa do povo que durava mais de trinta dias, o homem trabalhava na fazenda 11 meses duros de trabalho, para no mês de dezembro poder descansar. Já tinha colhido da fazenda quase tudo, tinha galinhas gordas e porcos, de modo que tinha o suficiente para viver com os seus familiares e amigos e assim já podia ajudar mais em casa, a esposa também trabalhava imenso porque além do serviço doméstico, bordava durante um ano uma toalha de linho para a mesa da festa e às vezes também bordava uma pequena para a mesa da lapinha de cómoda ou escadinha.
No presépio de dezembro até aos finais era a esposa que mais trabalhava, confecionava bolos de mel, as broas e os licores, era um trabalhão danado mas para os convidados que durante 30 dias ia receber não era para menos.
A primeira lapinha pública foi criada por um artesão conhecido pelo caseiro e que aí exponha os seus trabalhos, deste modo começou os festejos dos dias de hoje, conhecido em todo o mundo.
Para preencher este vazio nasceu a lapinha do Galeão.
A Associação do Galeão foi criada mesmo com o propósito para que esta tradição nunca se perca, hoje em dia ela recebe mais de cinquenta mil pessoas oriundas de todo o lado, as suas entradas são gratuitas e nos dias de hoje é mais difícil de construi-la e mantê-la porque os jovens não querem ajudar, os telemóveis ocupam o seu tempo, mas nós entre os sócios lá vamos desenrascando, trabalhamos 3 meses na construção e mais de um mês na amostra, é preciso ter oito pessoas diárias, e aí é que está a dificuldade.
A construção começa no princípio de setembro e termina a 30 de janeiro. Esta lapinha tem cerca de 800m2 se for visitá-la vai ver a tradição natalícia tão nossa e um despertar de lembranças, mais tradicional que esta lapinha não há.
Se for nos visitar o que precisamos é que nos ajude a manter esta tradição madeirense, embora estejamos a ser ajudados pelo Governo Regional, Câmara Municipal do Funchal, Casa do Povo de São Roque e Junta de Freguesia que nos dá o que é possível, nunca chega a cobrir todas as despesas devido ao elevado custo que temos com o presépio, por isso pedimos a sua ajuda e lá chegaremos.
Eu quero deixar aqui o meu agradecimento a todos os que nos têm ajudado estes últimos anos, não se esquecem de nós.
Todo o mundo nos conhece e lembre-se que a Madeira é uma festa e também tem um presépio que pode ver todo o ano, no mundo não há igual.
Bem haja, agradeço à comunicação social, diários, jornais e RTP Madeira e que foi graças a eles é que nos conheceram, obrigada a todos.
Juvenal Fernandes Silva