Suicídio de adolescente britânica atribuído a conteúdos de redes sociais
O suicídio de uma adolescente britânica em 2017 foi hoje considerado o resultado dos "efeitos negativos de conteúdo" disponível nas redes sociais por um magistrado após um inquérito judicial.
"Ela morreu de um ato de automutilação enquanto sofria de depressão e dos efeitos negativos de conteúdo online", declarou o 'coroner' Andrew Walker durante a conclusão do inquérito que durou cerca de 10 dias no Tribunal do 'Coroner' do Norte de Londres (North London Coroner's Court).
No Reino Unido é realizado um inquérito judicial conduzido por um 'coroner', que pode ser um jurista ou um médico, sempre que uma morte não tem causas naturais.
As imagens e vídeos sobre suicídio e lesões autoinfligidas vistas pela jovem de 14 anos Molly Russell em redes sociais, sobretudo Instagram e Pinterest, "não eram seguros" e "não deviam estar disponíveis para uma criança ver", disse Walker.
O funcionamento de algoritmos, que tendem a oferecer aos utilizadores conteúdos semelhantes ao que viram anteriormente, insistiu, "teve certamente um efeito negativo na Molly".
Durante as audiências, representantes da Pinterest e Meta (proprietária do Facebook e Instagram) lamentaram a morte da rapariga, reconhecendo que ela tinha acedido a conteúdos que não deveria ter visto, mas defenderam os esforços para moderar os conteúdos colocados nas suas plataformas.
Porém, os pais de Molly Russell e outras organizações querem que as redes sociais sejam mais responsabilizadas, substituindo o modelo atual de auto-regulação.
Uma proposta de lei para a "segurança online", que supostamente estabelece um equilíbrio entre a liberdade de expressão e a protecção dos utilizadores, particularmente menores, está atualmente a ser debatida pelo parlamento britânico.
A nova primeira-ministra, Liz Truss, disse no primeiro debate com deputados, no início de setembro, que pretendia continuar a avançar com a legislação.
"Já passaram quase cinco anos desde que Molly morreu e ainda estamos à espera da legislação governamental prometida. Não podemos esperar mais; não visem a perfeição, demasiadas vidas estão em risco. A estrutura reguladora pode ser aperfeiçoada nos próximos meses e anos", urgiu a Fundação Molly Rose, criada pela família em memória da adolescente.
Também a Associação Nacional para a Prevenção da Crueldade para com as Crianças britânica (National Society for the Prevention of Cruelty to Children, NSPCC) considerou este um "ponto de viragem" e considerou "inconcebível" qualquer atraso ou diluição da proposta de lei.