A tragédia humana, social e local
Que sociedade é esta que prefere destruir e “deitar fora” a doar, que se recusa a partilhar o que é possível
1. Este, tem sido um ano marcado por várias tragédias, das quais lamento e presto condolências às famílias, daqui e por este mundo fora. Infelizmente a vida é assim e parece que Deus quer levar para junto de si muitos dos que mais amamos.
Mas um flagelo, com efeitos colaterais, também veio à tona que foi a falta de empatia a que estamos sujeitos por pessoas de todos os estratos sociais, quando pseudo-analisam estas tragédias sociais com perdas irrecuperáveis.
Até então, o senso comum dizia-nos que a humanidade, empatia, solidariedade estavam diretamente relacionadas com a formação e o grau de “civilidade” do indivíduo… nada mais errado, pois a gravidade dos comentários que foram produzidos “com rostos” nas redes sociais, em resposta a diversos acontecimentos, chocaram muitos de nós.
Que mundo é este que vivemos, em que o racismo, xenofobia, a maldade e até a produção de factos falaciosos e mentirosos são uma constante. Que gente é esta que, na frustração da sua insignificância, sentem prazer em atingir pessoas e instituições.
Que sociedade é esta que prefere destruir e “deitar fora” a doar, que se recusa a partilhar o que é possível, que se recusa a tentar construir algo maior e melhor para todos.
Não falo da crítica justa com soluções, não falo das denúncias necessárias para que os problemas tenham soluções e eco, falo sim de um “vomitar” de maldade.
Por favor, antes de escreverem certas coisas, pensem que há um pai, um filho, uma família do outro lado que com certeza está a sofrer. Pensem que há muita gente que se dedica realmente à causa de fazer o bem comum e não merece estar num “saco” que nada tem a ver com as suas práticas.
Tentem usar o bom senso e por vezes basta só colocar-se no lugar do outro e pensarem: e se fosse eu, gostaria de ler/ ouvir isto? gostaria que os meus filhos ……?
2. Tragédia da Fajã da Ovelha
A primeira tragédia desta localidade, prende-se com um facto de esta ser uma terra muito extensa e dividida, os seus habitantes não vão a “um lado” e os outros do “outro lado”, recusam–se a frequentar a terra dos primeiros. Perante esta rivalidade até parece que não somos todos da mesma freguesia. Mas esta situação parece interessar muitos e infelizmente a própria organização religiosa não ajuda. Devemos ser das poucas freguesias (com cerca de 800 habitantes permanentes) em que as suas gentes pertencem a três paroquias diferentes e com padres diferentes, cuja missão de unir o “rebanho” se torna difícil.
A segunda tragédia deste lindo local, e infelizmente, tenho de assumir isto, pois se nada for feito nos próximos anos, com intervenção das autoridades locais e governamentais, será que esta freguesia irá resumir-se a uma simples terra com casas milionárias para estrangeiros, mas sem vida.
Neste momento, é impossível a quem não tenha uma casa antiga, um pedaço de terra, abrir um espaço comercial. Simplesmente é impossível adquirir ou arrendar seja o que for a preços justos e possíveis a qualquer normal investidor. Olhamos para os Prazeres e para a Ponta do Prago que, com os negócios da restauração e pequeno comércio, investimento em espaços desportivos, conseguem atrair milhares de pessoas fazendo com que estas freguesias tenham um valor sustentável, compatibilizando o investimento imobiliário com a criação de riqueza e emprego.
Na Fajã da Ovelha é simplesmente impossível tal desiderato tendo em conta a visão estratégica dos alguns dos seus habitantes e das entidades. Teremos uma freguesia sem negócios, logo sem emprego, e sem oportunidade de um “comum mortal” querer ou poder aqui fixar-se.
Não gosto de fazer premonições. Mas não “agoiro” bom Futuro. Deus queira que, tendo em conta esta dimensão trágica não resolvam dividir esta freguesia em dois, em que metade vai para os Prazeres e metade para a Ponta do Pargo…
Lembrem-se, uma Freguesia só tem razão de existir administrativamente, tendo em conta os habitantes, serviços e comércio.
Se é para ter um serviço de manutenção de levadas e veredas, uns arranjos de miradouros e fontanários não valerá a pena haver uma Junta de Freguesia e esta freguesia morrerá.