Defesa pretende que ataque à vice-Presidente argentina seja tentativa de femicídio
O advogado da vice-Presidente argentina, Cristina Kirchner, vai pedir à justiça para que classifique o ataque que sofreu na última quinta-feira, como "tentativa de feminicídio", agravado por tentativa de uso ilegal de arma de fogo.
"Estamos à espera que a Cristina consiga acalmar-se em relação ao que lhe aconteceu para pedir a classificação de tentativa de feminicídio perante a justiça", afirmou hoje o advogado da vice-Presidente, Gregorio Dalbón, em declarações ao canal de notícias C5N.
O homem, de nacionalidade brasileira, já detido, apontou uma arma à cabeça da ex-Presidente (2007-2015) da Argentina e atual vice-Presidente do país, na última quinta-feira e tentou atirar duas vezes, mas a arma não disparou.
"Cristina estava indefesa, pois estava a 50 centímetros da arma", acrescentou Dalbón.
Por outro lado, o advogado considerou que o detido não terá agido sozinho e que o ataque poderia ter sido planeado.
"Ele não agiu sozinho, porque houve ações preparatórias para a tentativa de assassínio, que não condicionaram o que preparou sozinho, mas havia outras pessoas que estavam cientes dessa situação", afirmou o advogado.
Um amigo do detido prestou declarações à imprensa local um dia após o ataque.
"Há uma declaração de um amigo que certamente será chamado para investigação, porque ele disse: 'Se ele lhe acertasse com aquele tiro, teríamos menos impostos'", acrescentou Dalbón.
Por isso, o advogado considerou que "o rapaz não é um lobo solitário, pois atuou apoiado e com o apoio de certas coisas, que custearam a arma e as balas que foram encontradas".
O detido recusou-se a prestar declarações perante a juíza federal María Eugenia Capuchetti e o procurador Carlos Rívolo, encarregado da investigação, que se dirigiram à prisão onde está detido.
Por outro lado, a Polícia Federal Argentina realizou buscas na residência do detido, na cidade de San Martín, em Buenos Aires, onde apreendeu cem projéteis calibre 9mm, um telemóvel e um 'laptop'.
Os equipamentos tecnológicos, que agora fazem parte das provas do caso, serão examinados pela polícia científica para saber se o detido agiu sozinho.
Na sexta-feira, fontes do Ministério de Segurança argentino já tinham confirmado à agência de notícias espanhola EFE que naquele dia tinham sido encontrados cem projéteis na casa do homem responsável pelo ataque.
Polícias federais encontraram as munições durante buscas na casa do suspeito, que mora no município de San Martín, localizado na capital argentina.
Os agentes já tinham, entretanto, realizado outra intervenção numa casa relacionada com o detido, no bairro de Villa del Parque, em Buenos Aires.
O Presidente da Argentina, Alberto Fernández, fez uma comunicação para repudiar o ataque e decretar feriado na sexta-feira, para que os cidadãos pudessem expressar-se contra a violência nas ruas.
O Presidente da Argentino afirmou que a vice-Presidente foi alvo de uma tentativa de assassínio, que só falhou porque a arma de fogo não disparou.
O homem, prontamente detido, "apontou-lhe uma arma de fogo à cabeça e puxou o gatilho", disse o Presidente, na televisão nacional.
O detido, um homem de 35 anos e de nacionalidade brasileira, não possui antecedentes criminais no seu país de origem, segundo o Ministério da Segurança argentino.
A juíza responsável pela investigação, María Eugenia Capuchetti, visitou na sexta-feira a casa da vice-Presidente argentina para recolher o seu depoimento.
Alberto Fernández também esteve na sexta-feira na casa de Cristina Kirchner, como um gesto de apoio.
Fernández liderou uma reunião do governo para examinar "o estado de agitação social" após o ataque e, através de um comunicado, pediu a mobilização de todos os cidadãos.
Os apoiantes da vice-Presidente têm-se reunido nas ruas à volta da casa de Kirchner desde a semana passada, após um procurador pedir uma pena de 12 anos para ela, num caso de alegada corrupção relacionado com obras públicas.
As tensões têm vindo a aumentar no bairro da Recoleta, em Buenos Aires, desde o fim de semana, quando apoiantes da vice-Presidente entraram em confrontos com a polícia nas ruas que circundam o seu apartamento, após as forças de segurança terem tentado desmobilizar os manifestantes.