Entre o intolerável e o louvável
O desperdício alimentar é repugnante quando há tanta forma de aproveitar excedentes
Boa noite!
Em 2020 foram desperdiçadas em Portugal 1,89 milhões de toneladas de alimentos, pelo que cada português deitou no lixo em média 183,6 quilos de alimentos. Não há palavras robustas para classificar tamanho absurdo.
Os dados assustadores revelados neste Dia Mundial de Consciencialização sobre Perdas e Desperdício Alimentar tiram o apetite a quem tanto luta contra os excessos, contra a febre consumista e contra a alienação colectiva. E talvez o problema seja também esse mau hábito de ‘lutar contra’ em vez de estar a favor da redução vinculativa, da educação para a sustentabilidade e da sensibilização para um problema de contornos repugnantes, pois enquanto uns deitam comida fora, há cerca 823 milhões de pessoas no mundo que se vão deitar sem uma "refeição decente".
Os números que chocam, partilhados numa iniciativa nacional promovida hoje pelo Movimento Unidos Contra do Desperdício, contrastam com uma das múltiplas atitudes responsáveis que confirmam o pacto crescente com a poupança, com o bom senso e com aproveitamento do que sobra em quantidade e qualidade.
Como nem tudo está perdido neste mundo em crise de valores, louva-se a atitude do Grupo Vila Galé que anunciou hoje a sua adesão às denominadas 'magic boxes' da Too Good To Go, a aplicação que permite aproveitar o excedente alimentar de diferentes estabelecimentos aderentes, a preços reduzidos.
A medida não chega à Madeira – o que é pena! – mas envolve cabazes de pequeno-almoço que custam 2,99 euros e 'magic box de brunch', disponível aos domingos por 3,99 euros.
Num contexto de recessão há felizmente quem alimente necessidades diversas com gestos simples, mas sublimes, que não só matam a fome, como geram oportunidades redentoras.