Kiev pede ao Conselho de Segurança reunião sobre referendos de anexação russa
A Ucrânia solicitou hoje que o Conselho de Segurança se reúna na terça-feira para abordar os referendos de anexação que a Rússia convocou em várias regiões, considerando que são uma "violação brutal" da Carta da Nações Unidas.
O embaixador ucraniano, Sergiy Kyslytsya, solicitou a reunião com urgência numa carta ao seu homólogo francês, Nicolas de Rivière, atual presidente do órgão, pedindo também que um representante do Governo da Ucrânia e o secretário-geral da ONU, António Guterres, possam intervir.
Kyslytsya acusou a Rússia de "continuar a violar a soberania e integridade territorial da Ucrânia, organizando um simulacro de 'referendos' nos territórios temporariamente ocupados" para consultar sobre a sua anexação, na qual as autoridades pró-russas destacaram uma alta participação, enquanto a Ucrânia denunciou numerosas coações.
O embaixador aparentemente enviou a carta durante a conferência de imprensa do ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, depois de este ter participado hoje na Assembleia Geral da ONU, onde afirmou que o Governo russo "respeitará inquestionavelmente os resultados dos referendos", embora não tenha respondido se prosseguirá com a anexação imediata após a publicação dos resultados.
O ministro dos Negócios Estrangeiros russo acusou também a União Europeia e Estados Unidos de não serem "neutros" e fazerem parte do conflito.
Serguei Lavrov falava numa conferência de imprensa após a sua participação na Assembleia Geral da ONU e depois de ser questionado sobre se um resultado favorável significaria uma anexação imediata, ao que respondeu: "A Rússia respeitará a expressão do povo ucraniano".
Antes, ao discursar na 77.ª sessão da Assembleia Geral da ONU, em Nova Iorque, Lavrov acusou o Ocidente de "russofobia sem precedentes" e "grotesca".
"A russofobia oficial no Ocidente não tem precedentes, a sua dimensão é grotesca", declarou.
"Não hesitam em declarar a sua intenção não apenas de infligir uma derrota militar ao nosso país, mas também de destruir a Rússia", afirmou, defendendo os "referendos" de anexação em curso em várias regiões da Ucrânia e atacando diretamente os Estados Unidos.
"Ao declarar-se a sua vitória na guerra fria, Washington considera-se quase um enviado de Deus na Terra, sem qualquer dever, mas com o direito sagrado de agir com impunidade em qualquer lugar e a qualquer momento", declarou Lavrov.
O chefe da diplomacia de Moscovo defendeu os "referendos" de anexação que decorrem em quatro regiões ucranianas sob controlo total ou parcial das forças, considerando que as populações recuperam "a terra onde os seus antepassados viveram durante centenas de anos".
A Ucrânia e a comunidade internacional não reconhecem a legitimidade das consultas.
Em 2014, a Rússia utilizou um referendo idêntico para legitimar a anexação da Crimeia, depois de ter invadido e ocupado esta península ucraniana situada na costa norte do Mar Negro.
Na mesma altura, eclodiu uma guerra separatista nas regiões de Donetsk e Lugansk com o apoio de Moscovo.
O Presidente russo, Vladimir Putin, reconheceu as autoproclamadas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk dias antes de ordenar a invasão de Ucrânia, em 24 de fever