Análise

“Orientem-nos”!

O pânico não costuma ser Bom conselheiro. mas tende a crescer, em várias frentes

O desespero apodera-se de vários quadrantes da vida colectiva madeirense. Nuns casos, porque falta dinheiro. Noutros, porque os recursos humanos escasseiam. Em quase todos porque se avizinha uma perigosa recessão de efeitos imprevisíveis. E mesmo que os políticos no poder acenem com estabilidade governativa que os opositores tentam atormentar, ou com promessas de ajudas que implicam poupanças, mas também sacrifícios, começa a ser difícil conter o pânico. O desabafo de Tânia Castro durante a conferência ‘O Futuro do Investimento Directo Estrangeiro’, e com base na decisão do tribunal europeu em relação às empresas do CINM, é eloquente: “Nós, que pagamos salários, não sabemos como vamos promover o regime amanhã, não sabemos o que vai ser o futuro. Sei que não depende da Região, mas do Estado. Mas orientem-nos. Tenho um cliente para a Zona Franca. O que digo? O que está na decisão de ontem ou o entendimento da SDM?”. Esta não foi a única súplica, pois estados de alma de idêntico calibre repetiram-se noutras frentes ao longo da semana. “Orientem-nos” é o que dizem os que procuram por habitação condigna, mas sentem não ter vaga no delirante acesso ao inesperado luxo. Tudo devido às burocracias, ao aumento do custo de vida, aos baixos salários, à bolha imobiliária, ao aumento das taxas de juro, aos desleixos de quem devia acautelar a igualdade, mas optou por riscar da equação os remediados, que não sendo pobres estão fora do patamar de acesso a ajudas sociais, mas que não sendo ricos, arriscam ficar uma vida inteira a poupar para nada de relevante. “Orientem-nos” é o que gritam os que foram severamente lesados pela banca sem escrúpulos e os chegam de aventuras nem sempre bem sucedidas por esse mundo além e que descobrem nas origens a escapatória para a escravidão e a delinquência. “Orientem-nos” é o que clamam os que andam à deriva depois de ter conseguido o mais difícil, a entrada na Universidade ou no trabalho de sonho, mas que a deslocalização dificulta. É o que segredam os que desconfiam que não chegará a vez do atendimento médico marcado há anos e da cirurgia fatalmente adiada. É o que pedem as famílias que se confrontam com dramas existenciais ditados pelos vícios que se misturam perigosamente com álcool e drogas. É o que partilham os que detectam lacunas nas respostas sociais para a doença de Alzheimer, uma luta de pacientes e cuidadores numa ilha em que se estima haver 2.500 doentes, dos quais apenas 250 estão monitorizados. É também o que desabafam os maritimistas que na ânsia de acabar com a liderança de um homem só no clube que veneram agora dão conta que elegeram um problema bem maior, para o qual podem não ter antídoto a curto prazo. São hoje muitos os que procuram certezas, luz para um caminho sem sobressaltos e soluções para os problemas que se agudizam. Não bastará recomendar serenidade até porque nem todos vão conseguir sozinhos. É preciso agir, com determinação e robustez, sob pena da Região, elogiada por estar um passo à frente na captação de investimento, dar perigosos passos atrás, comprometendo o que conquistou, receitas, fama e atractividade duradoura.