Rússia intensifica campanha militar e política nos territórios ocupados
A Rússia intensificou hoje a campanha militar e política para conquistar território ucraniano, pois começou a reunir os reservistas no exército e a preparar a votação para os quatro referendos que começarão a partir de sexta-feira.
As autoridades pró-Moscovo de quatro regiões da Ucrânia controladas pela Rússia vão organizar referendos para que se possam tornar parte integrante do território russo, medida que, segundo considera a agência Associated Press (AP), pode prolongar a guerra por mais tempo, seguindo o "manual" do Kremlin, que anexou a península da Crimeia após uma votação semelhante, em 2014.
No entanto, a maior parte da comunidade internacional considera "ilegal" a anexação da Crimeia.
No campo de batalha, as forças russas e ucranianas trocaram mísseis e barragens de artilharia e ambos os lados se recusaram a ceder terreno, apesar dos recentes reveses militares para Moscovo e o número de vítimas no país invadido após quase sete meses de guerra.
Na Rússia, ativistas antiguerra que protestaram na quarta-feira, depois de o Presidente Vladimir Putin ter ordenado uma mobilização parcial de tropas, disseram que realizariam mais manifestações no fim de semana.
A votação nas regiões de Lugansk, Kherson, Zaporijia e Donetsk, situadas no leste da Ucrânia, está prevista para se prolongar até terça-feira.
Vários líderes políticos internacionais já afirmaram que os resultados dos referendos não serão tidos em conta, pois tudo não passa de uma "farsa" para desviar a atenção da opinião pública, tal como afirmou o chefe de Estado ucraniano, Volodymyr Zelensky, numa altura em que o exército russo tem sofrido vários reveses no terreno.
Em Lugansk surgiram afixados nas ruas cartazes com palavras de ordem como "Com a Rússia Para Sempre" ou "A Nossa Escolha: Rússia", ao mesmo tempo que voluntários distribuíam fitas e panfletos com as cores da bandeira nacional russa em que se apela a participação no referendo.
No sentido inverso, os ataques com mísseis russos à cidade de Zaporijia, no sul, deixaram uma pessoa morta e cinco outras feridas, segundo reportaram as autoridades locais, com a Ucrânia a responder com um bombardeamento em Donetsk, controlada pelos separatistas, provocando seis vítimas mortais.
No meio das hostilidades, as duas partes conseguiram, ainda assim, chegar a um acordo para a troca de prisioneiros, na mesma altura em que Putin anunciou a mobilização de 300.000 reservistas adicionais para se juntarem ao exército russo que se encontra na Ucrânia.
Quarta-feira, a Ucrânia e a Rússia realizaram a maior troca de prisioneiros militares desde o início da invasão russa no final de fevereiro.
Kiev recuperou dez estrangeiros (cinco britânicos, dois norte-americanos, um marroquino, um sueco e um croata) e 205 ucranianos, incluindo os chefes de defesa da siderúrgica Azovstal, na cidade de Mariupol, símbolo de resistência à invasão russa.
Em troca, Moscovo recebeu 55 russos e um ex-deputado ucraniano Viktor Medvedchuk, considerado próximo do Presidente russo, Vladimir Putin, e acusado de alta traição por Kiev.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas - mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,4 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa - justificada por Putin com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 5.916 civis mortos e 8.616 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.