Relatório indica que mobilização russa não resolverá deficiências imediatas
O Instituto para o Estudo da Guerra considera que o anúncio de mobilização parcial decretada pelo Presidente Vladimir Putin "dificilmente será capaz de resolver" no imediato os problemas russos na invasão da Ucrânia.
No seu mais recente relatório, o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW, na sigla em inglês), um 'think tank' com sede em Washington, defende que a decisão do Kremlin de mobilizar reservistas "não vai gerar poder de combate russo útil, por vários meses"
"A mobilização parcial da Rússia, por isso, não privará a Ucrânia de libertar mais parcelas do seu território ocupado, durante o inverno", concluiu o documento do ISW.
Os analistas do instituto norte-americano recordam ainda que Putin, ao falar do "guarda-chuva nuclear russo", não o associou às áreas anexadas da Ucrânia, tal como não vinculou a mobilização de reservistas à anexação de território ucraniano.
Ou seja, para estes especialistas, o Presidente russo procurou evitar uma ligação explícita entre as ameaças nucleares e a intervenção militar na Ucrânia.
"Putin enquadrou os seus comentários sobre a possibilidade de uso de armas nucleares russas no contexto de eventuais ameaças ocidentais de usar armas nucleares contra a Rússia", conclui o relatório.
Na leitura do ISW, na sua comunicação ao país, "a linguagem de Putin não é diferente da política formal do Kremlin ou de declarações anteriores de autoridades russas", pelo que se desvaloriza o tom de ameaça utilizado pelo líder russo.
"O discurso de Putin não deve ser lido como uma ameaça explícita de que a Rússia usaria armas nucleares contra a Ucrânia se a Ucrânia continuar a contra-ofensiva contra os territórios ocupados após a anexação", pode ler-se no relatório.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,4 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 5.916 civis mortos e 8.616 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.