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Coitados e cuidadores

Nem faço ideia da eficiência da justiça no abandono de pessoas, sobretudo as deficientes e/ou idosas, pelos seus mais próximos

Esta vida no meio (cada vez menos) rural é, ainda, onde me sinto bem! Quando queremos, todos sabemos da vida de todos. É bom porque a solidariedade funciona. Mas, embora claramente cada vez menos, o reverso da medalha também existe: quando não queremos, também se sabe, ou… inventa-se. Enfim, a bilhardice, a mais velha rede social do mundo, ainda não se extinguiu, embora o efeito nefasto esteja cada vez mais minorado.

Foi através duma rede social (que não a bilhardice) que tomei conhecimento do abandono, de 3 cães, nesta zona do Arco da Calheta. Alguém que não conhecia os animais e os viu perdidos e assustados alertou para o facto. Animais perdidos cujos donos depois os procuraram é uma coisa. Outra coisa é encontrar animais claramente ao abandono, esfomeados e desorientados.

O nosso código penal veio tipificar o crime de maus tratos e abandono de animais. Não faço ideia da eficiência da justiça nesta matéria.

Nem faço ideia da eficiência da justiça no abandono de pessoas, sobretudo as deficientes e/ou idosas, pelos seus mais próximos. Leio e oiço falar em pessoas que estão “abandonadas” a viver no Hospital, nos lares, apesar de lhes ter sido concedido alta. E também sei que, por vezes, os herdeiros apenas esperam, desesperadamente, pela herança e, mensalmente, outros ainda pelo recebimento das reformas desses “abandonados” …

Já ouvi tantas estórias de gente que se disponibilizou e tratou de encaminhar as heranças desses abandonados, mas não foi capaz de contribuir para melhorar a qualidade de vida do abandonado benemérito silencioso ou silenciado. E a lei, mais uma vez desprotege o mais fraco. E a justiça?!… o herdeiro usurpador sente-se protegido, porque, comme d’habitude, ele morrerá também antes que seja tomada uma decisão.

Esta é uma queixa de norte a sul do país.

Incomoda-me brutalmente, que os responsáveis políticos deste país não produzam uma lei a proteger e a beneficiar, adequadamente, os “reais” cuidadores desses “desinfelizes”. Compreendo que seja extremamente difícil encontrar soluções apropriadas a cada caso, porque cada caso é um caso. Não será exigível que alguém sacrifique a sua vida, a sua família, o seu futuro. Mas aí o papel do Estado deve ser o de acompanhamento material e não formal. É que decidir sobre esta matéria com base no formulário xpt sem conhecer in loco o que materialmente é relevante será mais cómodo, mas extremamente injusto. Há muito sofrimento silencioso …

E tanto uns como outros merecem apoio e reconhecimento.