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Centenas de iranianos protestam contra participação de PR do Irão na ONU

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Centenas de iranianos manifestaram-se hoje contra a participação do Presidente do seu país, o ultraconservador Ebrahim Raisí, na Assembleia-Geral das Nações Unidas, acusando-o de suprimir os direitos humanos e de apoiar o terrorismo.

O protesto ocorreu em frente à sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, num momento em que chefes de Estado e de Governo se encontram no local para participar na 77.ª Assembleia-Geral.

Em declarações à Lusa, vários cidadãos iranianos indicaram estar ali em protesto contra o facto de a ONU dar palco a Ebrahim Raisí para discursar.

Em comum, os vários manifestantes têm o facto de não se querem identificar, temendo represálias ou perseguições por parte do Governo iraniano, quer contra eles próprios, quer contra as suas famílias no Irão.

"Estamos aqui a protestar porque o assim chamado Presidente do Irão está aqui nas Nações Unidas a representar um país que apoia o terrorismo e que suprime os direitos humanos. Vimos mostrar o nosso descontentamento pela ONU aceitar a sua presença", disse um dos manifestantes.

"Pedimos aos líderes aqui presentes que parem de apoiar países que dão suporte ao terrorismo e que não os permitam entrar na ONU. Uma plataforma como as Nações Unidas, que apoia os direitos humanos, não deveria receber alguém responsável por crimes horrendos contra a humanidade. Não há direitos humanos no meu país: nem para homens, nem para mulheres, nem para crianças, nem para animais", acrescentou.

Um outro manifestante advogou que Raisí não representa o povo iraniano: "Ele nem sequer deveria ter acesso a um visto para estar aqui presente, em primeiro lugar. E, já que aqui está, não deveria ter direito a discursar. Ele não nos representa", frisou.

Já uma rapariga iraniana a viver em Nova Iorque disse à Lusa que o que a move é a morte de Mahsa Amini, uma jovem iraniana detida pela polícia da moral do país e que acabou morta.

"Estou aqui a manifestar-me pela morte desta mulher, que estaria a usar mal o seu lenço e a não cobrir totalmente os seus cabelos", disse a jovem, segurando um cartaz com o rosto de Mahsa Amini.

Mahsa Amini, 22 anos, natural do Curdistão (noroeste) foi presa no passado dia 13 de setembro em Teerão, onde se encontrava de visita a familiares.

Amini foi presa porque "usava roupas não apropriadas" tendo sido acusada de falta de cumprimento por uma unidade especial da polícia que faz respeitar o código de vestuário das mulheres na República Islâmica do Irão.

No Irão, as mulheres têm de tapar os cabelos quando se encontram em público.

A polícia proíbe o uso de saias curtas, calças justas, jeans ou roupa de cores vivas, entre outras restrições.

Masha Amini "entrou em coma" após ter sido presa e acabou por morrer no dia 16 de setembro num hospital da capital, disseram familiares à televisão estatal.

A morte da jovem provocou de imediato manifestações no Irão assim como o protesto político internacional contra Teerão. Até ao momento, pelo menos seis pessoas morreram nessas manifestações, segundo fontes oficiais,

"Peço aos lideres aqui presentes que façam alguma coisa, que não fiquem em silêncio. Os direitos das mulheres deveriam ser importantes em qualquer país do mundo, precisamos de nos levantar por essas mulheres. A ONU não está a fazer nada. Mulheres como eu não têm a liberdade de andar pelas ruas naquele país. Estamos todos com medo, não apenas por nós, mas também pelas nossas famílias no Irão, que poderão ser perseguidas", afirmou à Lusa a jovem.

A maioria de participantes no protesto havia sido convocada pelo Conselho Nacional de Resistência do Irão, com sede em França e que agrupa grande parte da oposição iraniana fora do país persa.

No protesto registaram-se várias intervenções de políticos e personalidades norte-americanas contrárias ao atual Governo iraniano, como o antigo assessor de Segurança Nacional do ex-presidente Donald Trump, John Bolton, e o ex-senador Joe Lieberman, que foi candidato a vice-presidente em 2020.

Lieberman considerou uma "vergonha" que um "assassino" e um "terrorista" como Raisí esteja a discursar nas Nações Unidas durante a Assembleia-Geral, especialmente quando o "regime maligno" no seu país está a reprimir as mulheres e a população iraniana mais jovem.

Raisí interveio hoje na Assembleia-Geral da ONU para criticar duramente os Estados Unidos e alertar que a "hegemonia" norte-americana está a acabar e será substituída por "uma nova ordem".