Crianças indígenas têm 14 vezes mais probabilidade de morrer por diarreia no Brasil
Uma criança indígena tem 14 vezes mais probabilidade de morrer por diarreia do que uma branca no Brasil, refere um estudo do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Os dados apresentados num artigo na revista The Lancet Global Health indicam que a chance de uma criança indígena brasileira morrer de malnutrição chega a ser 16 vezes maior e de pneumonia sete vezes maior do que uma criança branca.
Os riscos de morte de crianças negras face às brancas no país sul-americano também são muito maiores quando são consideradas as mesmas doenças: diarreia (72%), pneumonia (78%) e malnutrição.
Num comunicado, a Fiocruz reforçou que já era conhecido pela ciência que crianças menores de 5 anos estão mais suscetíveis aos riscos decorrentes do lugar em que vivem, mas os investigadores queriam responder se o fator etnia faz diferença no viver ou morrer de crianças com até 5 anos no Brasil.
A análise observou mais de 19,5 milhões de crianças nascidas entre 1 de janeiro de 2012 e 31 de dezembro de 2018 e a partir dessa amostra conferiu-se quantas e quais dessas crianças também apareceram noutro sistema, o Sistema de Mortalidade.
Os dados extraídos em 2020 constataram que 224.213 crianças menores de 5 anos morreram no período.
"E o que a gente traz nesse estudo é que essas mortes, muitas vezes, ocorrem por causa evitáveis, como diarreia, desnutrição, pneumonia e gripe", explicou Poliana Rebouças, investigadora que liderou o estudo da Fiocruz.
Quando pensado em causas acidentais, as crianças filhas de mães negras têm 37% mais riscos de morrerem do que as de mães brancas. Já entre os indígenas, esse risco é aumentado para 74%.
A investigação destacou também que "faltam recursos para que se reduzam as desigualdades étnico-raciais para as populações indígenas, negras e mulatas, isso resulta numa realidade desfavorável para estes grupos".
No Brasil, mães negras, mulatas ou indígenas vivem em condições desfavoráveis, com menor escolaridade, menor frequência ou início tardio da natalidade o pré-natal e residem mais distantes dos serviços de saúde durante o parto.
"Essas circunstâncias de vida resultam em maior risco de desfechos negativos, como baixo peso ao nascer, nascer pequeno para a idade gestacional, prematuridade e aumento da incidência de doenças evitáveis, o que aumenta o risco de mortalidade infantil", disse a Fiocruz.
"A prematuridade também é um fator de maior prevalência entre as crianças indígenas e está presente em 15% dos nascimentos. Isso significa que, para cada 10 bebés, mais de um nasceu antes do tempo, o que afeta diretamente o seu desenvolvimento. Estes bebés indígenas nasceram com menos de 2,5 quilogramas, em 90% dos casos", concluiu.