Separados à nascença
A percepção da utilidade dita posturas, tanto no futebol como na vida
Boa noite!
O que separa Rafa de Cristiano Ronaldo, para além de alguns centímetros, outros tantos anos e dezenas de golos, é a percepção da utilidade.
O extremo do Benfica, com 29 anos, pôs ontem termo à sua carreira na selecção portuguesa de futebol. Alega ser "uma decisão honesta e acertada", mas que em boa verdade decorre da fraca utilização como titular e de em 25 internacionalizações não ter apontado qualquer golo. Não é que seja mau jogador. A carreira no Benfica prova-o e até levou Ricardo Quaresma a admitir que se revê no jogador encarnado: "Passou-me isso pela cabeça. Quando estava no FC Porto, estava a voar e chegava a seleção e raramente jogava”.
Cristiano Ronaldo, que hoje foi distinguido na gala 'Quinas de Ouro' por ser o maior goleador de selecções, admite ser ainda prematuro pensar em deixar a jogar ao mais alto nível, assumindo que quer estar no Euro 2024. "Sinto-me ainda motivado, a minha ambição está lá em cima", admite. Porque, apesar dos 37 anos feitos, joga, marca e dá que falar.
Na vida, há uma série de separados à nascença com a mesma tipologia. Há aqueles pelos quais o tempo não passa, mesmo que não vão para novos, porque se dedicam com entusiasmo à carreira que abraçaram como se estivessem a começar e os outros que alegam mil e uma desculpas de índole pessoal para desistir, mesmo que tenham muito para dar. São posturas, ambas merecedoras de respeito, mas que indiciam estados de alma que derivam de um sem número de factores, entres os quais o legítimo desencanto perante quem faz escolhas ou a plena satisfação com um rendimento que, mesmo não sendo consensual, é inquestionável.