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Aumenta migração interna na Venezuela para a capital e outros três estados

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A migração de cidadãos dentro da Venezuela está a aumentar, em particular para o Distrito Capital (Caracas) e os vizinhos Estados de Miranda e La Guaira, mas também para as minas de Bolívar, no sul do país, avança hoje a imprensa local.

"Enquanto cidades como Barquisimeto, Valência, Puerto La Cruz e Estados como Trujillo registam menos pessoas e viaturas nas horas de ponta, em Caracas o caos do tráfego está a aumentar, surgem novos negócios e construções urbanas na zona do leste como sinal de dinamismo económico (...) que especialistas em migração e economistas dizem não se via desde há mais de cinco anos", explica o diário La Prensa de Lara.

Citando o diretor do Centro de Investigações Popular, Alexander Campos, o diário explica que "desde o início da pandemia (da covid-19), houve um aumento da migração interna para quatro áreas da Venezuela: o Distrito Capital, parte de Miranda e La Guaira [porque há mais oportunidades de emprego e serviços públicos de melhor qualidade] e Bolívar, onde as pessoas acodem para trabalhar na atividade mineira".

"Este despovoamento a que estamos a assistir é porque 6,8 milhões de venezuelanos deixaram o país, segundo dados do ACNUR, e a migração interna está a crescer, com pessoas à procura de uma experiência antes de tomarem a decisão definitiva de deixar a Venezuela", explica Alexander Campos.

"A pandemia restringiu o movimento para o estrangeiro, porque as fronteiras e os voos comerciais estavam encerradas e as pessoas decidiram ficar no país", sublinhou, precisando que estes movimentos também se registaram em comunidades "onde aumentou a violência, no controlo de organizações de crime organizado e da guerrilha".

"Localidades como La Cañada de Urdaneta em Zúlia [oeste do país] que é uma zona muito violenta, muitos dos seus habitantes mudaram-se para (a cidade de) Maracaibo para evitar perseguições ou tentaram fugir para Caracas em busca de maior segurança", disse.

Posteriormente, "com o agravamento de serviços como água potável e eletricidade, a falta de empregos e oportunidades, e a escassez de gasolina, forçaram a uma movimentação maior de profissionais e famílias inteiras a migrar para a capital".

Segundo Simón Salas, da Câmara de Comércio de Lara, "o maior incentivo para migrar para Caracas é que as empresas pagam mais e um profissional, ao receber em média 500 dólares [o salário mínimo local é de 30 dólares], pode comprar o cabaz alimentar familiar".

O jornal La Prensa de Lara descreve o caso do jornalista José Daniel Sequera, que viajou de Barquisimeto para Caracas e que tem atualmente dois empregos, e de Luwims Navarro, um jovem de Trujillo que se mudou para poder ajudar a mãe a pagar os gastos médicos, depois de em 2019 ter viajado para a Colômbia, de onde regressou em 2021.

Segundo o economista e investigador de Venecápital Alejandro Castro, cidades venezuelanas como Maracaibo registam atualmente menos movimento de pessoas, porque caiu a produção petrolífera local. Em Barquisimeto e Valência a baixa afluência deve-se à queda do setor industrial, que opera a apenas 30% da sua capacidade, o que levou ao encerramento de empresas.

A falta de combustível levou o fotógrafo Enrique Rivas a migrar de Maracaibo para Trujillo e depois para Barquisimeto, onde esteve três meses à espera para conseguir um emprego.

Josymar Wanderlinder, economista da empresa Econométrica a inflação é também um fator que leva as pessoas a migrar dentro da Venezuela.

Segundo o diretor do Centro de Investigações Popular, Alexander Campos, a desvalorização do bolívar, a moeda local, e a inflação, fará aumentar, no último trimestre de 2022, o êxodo de venezuelanos para o estrangeiro.

Em finais de agosto, a ONU atualizou em alta, para 6,81 milhões, o número de migrantes e refugiados venezuelanos que nos últimos anos abandonaram o seu país para escapar à crise política económica e social que afeta a Venezuela.

Os dados foram atualizados pela Plataforma de Coordenação Interagências para Refugiados e Migrantes da Venezuela (R4V), da ONU, que em julho de 2022 dava conta de que 6,15 milhões de venezuelanos estavam no estrangeiro.