Madeira

Porto Moniz é exemplo que o "Governo tem dificuldade em apostar nos concelhos rurais"

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O PAN-Madeira no seu roteiro por concelhos fez um apanhado dos problemas que se vivem, desta feita, no  Porto Moniz, concluindo que aquele município a norte da Madeira "possui um enorme potencial, tendo, em si, características naturais únicas, mas que são pouco aproveitadas por um governo que tem dificuldade em apostar nos concelhos rurais".

Mas aponta ainda à actual vereação, que "tem de mudar o foco da sua 'câmara', e apostar verdadeiramente na vertente natureza. O concelho quer-se jovem, atrativo e com uma clara aposta no desenvolvimento sustentável e na natureza", refere.

Assim, resumimos aqui as notas tiradas nesta visita.

"Ponto de paragem obrigatória, o concelho do Porto Moniz, é um município com cerca de 2500 habitantes, maioritariamente idosos, mas indubitavelmente marcado pelas suas indiscutíveis belezas naturais.

Iniciámos a nossa visita pela freguesia das Achadas da Cruz, conhecida pelo seu teleférico e fajã, mas que é bem mais e maior do que isso. Trata-se de uma freguesia que liga o Paúl da Serra à costa oeste da Madeira, selvagem e bela, uma freguesia completamente abandonada e sem futuro à vista, confessam-nos os seus poucos habitantes.

O PAN Madeira ouviu queixas relativas à construção desregulada na fajã, ao êxodo rural da freguesia e às deficientes vias de circulação. Distante e com verdadeiro potencial, este é um local ideal para a extensão do projeto dos nómadas digitais, mas sempre regulado, criando atividades que recuperem a abandonada agricultura e a limpeza de infestantes, já que esta freguesia é brutalmente assolada por cana vieira, carqueja e eucalipto, competindo diretamente com a valiosa mancha de Laurissilva que ocorre nas Achadas da Cruz.

Ao mesmo tempo, o PAN acredita que a valorização, limpeza e sinalização de miradouros e pontos de interesse pode criar um pólo de interesse, criando estruturas necessárias para o surgimento de negócios locais de apoio e, consequentemente, postos de trabalho que ajudem a fixar população. Recuperar, com técnicos especializados na área geológica e botânica, a Vereda da Quebrada do Negro, por exemplo, tesouro de espécies nativas, e criar percursos recomendados na freguesia são ainda outras formas que o PAN Madeira encontra para usar as valências da freguesia a seu favor.

Já no centro da freguesia, e confessando-se sem atividades para fazer, os populares reivindicam a criação de um centro intergeracional onde possam desenvolver ações e projetos de diversas ordens.

Seguimos para a freguesia que dá nome a este concelho. Com duas centralidades, o sítio da Santa e a Vila do Porto Moniz, os fregueses apontam o envelhecimento da população, a saída dos jovens e a falta de serviços essenciais como os maiores flagelos na zona. Tendencialmente sazonal e ligado às piscinas naturais, o emprego quer-se mais diversificado e menos dependente do turismo de praia.

É notória a falta de visão e do aproveitamento das riquezas naturais do concelho que se expandem muito além das piscinas, numa freguesia que pode e deve explorar as atividades ligadas ao mar, tendo um porto de recreio ali mesmo à sua disposição. A valorização dos seus miradouros, com atribuição de licenças para exploração de negócios de apoio é vital. Relativamente à antiga estrada regional, o PAN Madeira acredita que a natureza sempre prevalecerá.

Assim, a betonização e descaraterização total das nossas encostas não pode ocorrer. Uma vez ao ano, acreditamos que a limpeza das pedras poderia ocorrer, permitindo a passagem a pé de visitantes, sempre alertados para o perigo iminente, ou ainda a criação de pequenos pontos com passadiços, por onde fosse seguro passar e não implicasse a desvirtuação da paisagem, permitindo apreciar em segurança a encosta que segue até ao concelho vizinho.

Seguimos viagem até à Ribeira da Janela, essencialmente conhecida pela beleza do seu litoral e pelo parque de campismo. Esta é uma freguesia envelhecida e cuja centralidade foge completamente do percurso normal dos que visitam o concelho. Com o começo da belíssima Vereda da Tranquada, ligando a Ribeira da Janela à extraordinária Ribeira Funda, próxima ao centro da freguesia, a conversão desta caminhada num Percurso Recomendado pode servir de atrativo ao local, permitindo o surgimento de negócios de apoio.

Os populares pedem apoios à agricultura, menos burocratizados e mais simples. Além disso, a mancha de eucalipto quer-se controlada, iniciando-se, nesta freguesia, a subida para o Fanal, parte integrante da freguesia e todos os ecossistemas ameaçados pelo abuso de atividades de turismo todo-terreno, BTT e afins. Focando no Fanal, local emblemático para todos os madeirenses e quem nos visita, o PAN Madeira está particularmente preocupado com a biodiversidade do local.

O que parece, à primeira vista, um cenário de filme, é na verdade um cemitério de TIL's velhíssimos e cuja recuperação é impossível pela presença de gado. O PAN apoia a pastorícia, mas não pode deixar de manifestar as suas preocupações. Acreditamos que a conversão de eucaliptal e zonas de carqueja, vedadas, será a melhor opção, diminuindo a erosão dos solos de montanha pelos seus cascos e permitindo a regeneração da nossa floresta que nos permite ter reservas de água.

Tudo isto atividades que podem ligar a população a projetos dinamizados e apoiados pelo governo e pela união europeia, garantindo postos de trabalho que acompanhem e vigiem os projetos, não os votando ao abandono pós notícia, o que acontece de forma geral pela região.

Finalizamos no Seixal, freguesia icónica e aquela que parece atrair a maior parte dos jovens madeirenses. Com a sua praia única ou ainda pelo exotismo do Chão da Ribeira e da Ribeira Funda, esta é uma freguesia com imensas valências. Com as vindimas a decorrer e ainda que satisfeitos pela produção deste ano, os populares lamentam os valores pagos pela uva, mas queixam-se essencialmente da estagnação do local.

Com a saída dos jovens, fecho de negócios e abandono rural, esta é uma freguesia que tem tudo para um ressurgimento, mas parece estar preso ao status quo e comodismo dos “oligarcas locais”. O PAN Madeira sugere a criação de um projeto de pop-up businesses, iniciando-se nos meses de verão, aproveitando o maior número de visitantes, descobrindo e criando nichos sólidos de mercado a se manter na freguesia.

No Chão da Ribeira, o PAN Madeira saúda a sinalética alusiva às atividades de canyoning e aos novos percursos que ligam este extraordinário espaço ao Fanal, mas pede respeito e fiscalização às mesmas. Alertados por populares, o abate indiscriminado de espécies raras e nativas para a passagem de turistas não pode acontecer. O conhecimento tem de ser espelhado e espalhado, garantido que quem nos visita, saia com um pouco da Madeira em si, da forma mais responsável possível.

Aqui, um fator que nos preocupa prende-se com a construção desrespeitosa e a especulação imobiliária, garantido que o local se mantenha fiel à harmonia com a natureza. Com as preocupações refletidas aqui, no sítio da Ribeira Funda, o PAN Madeira pede maior segurança e sinalética no acesso ao local, sugerindo a criação de um largo-miradouro, com negócios de apoio, criação de incentivos alargados à criação de turismo rural e ainda, estendendo-se a todas as outras freguesias, benefícios alargados para a primeira residência de jovens no município".