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Novos protestos no Irão após a morte de uma mulher na prisão

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Foto EPA

A morte, sexta-feira, de uma jovem iraniana sob custódia da polícia dos costumes do Irão desencadeou hoje novas manifestações no país, com particular incidência em Teerão e em Mashhad, com as autoridades policiais a rejeitarem qualquer responsabilidade.

Após uma manifestação inicial no sábado em Saghez, cidade natal de Masha Amini, um protesto de cerca de 500 pessoas ocorreu domingo à noite Sanandaj, capital da província do Curdistão, no noroeste do Irão, manifestações secundadas hoje um pouco por todo o país, sobretudo em centros universitários, reportou a agência noticiosa local Fars.

Segundo a Fars, hoje, no centro de Teerão, "várias centenas de pessoas gritaram palavras de ordem contra as autoridades, tendo algumas das manifestantes despido o "'hijab' [véu islâmico]".

Num curto vídeo divulgado pela agência noticiosa podem ver-se várias dezenas de mulheres a retirarem o véu, gritando "morte à República Islâmica".

"A polícia prendeu várias pessoas e dispersou a multidão usando cassetetes e gás lacrimogéneo", reportou a Fars.

Uma manifestação semelhante ocorreu hoje em Mashhad (nordeste), a cidade mais sagrada do país, indicou a também agência noticiosa local Tasnim.

Masha Amini foi presa a 13 deste mês em Teerão por "trajar roupas inadequadas", segundo acusou a polícia dos costumes, uma unidade encarregada de fazer cumprir o rigoroso código de vestimenta das mulheres na República Islâmica.

No Irão, é obrigatório cobrir o cabelo em público. A polícia fiscaliza ainda as mulheres que usam casacos curtos, acima do joelho, calças justas e 'jeans' com buracos (ou rotos), além de roupas coloridas, entre outras regras.

A jovem entrou em coma após a prisão e morreu três dias depois, a 16, num hospital, segundo reportou a televisão estatal e a família da vítima.

Os ativistas consideraram "suspeita" a morte de Masha Amini, pois defendem que foi torturada e que, por isso, exigem "esclarecimentos". 

No entanto, o comissário da Polícia de Teerão, general Hossini Rahimi, afirmou que "não houve contacto físico" com a vítima e rejeitou as "acusações injustas" contra as forças de segurança.

"Fizemos investigações e todas as evidências mostram que não houve negligência ou comportamento inadequado por parte da polícia. Este é um incidente lamentável e desejamos nunca testemunhar tais incidentes novamente", disse o general, sem esclarecer a causa da morte de Masha Amini.

Rahimi insistiu na ideia de que a jovem violou o código de vestimenta e que a polícia pediu aos parentes de Mahsa Amini para que lhe trouxessem "roupas decentes".

No dia em que morreu, a televisão estatal iraniana transmitiu um pequeno vídeo de vigilância em que se pode observar uma mulher, identificada pelo órgão de comunicação social como Mahsa Amini, a desmaiar nas instalações da polícia após uma discussão com um agente policial.

Na segunda-feira, Amjad Amini, pai da vítima, disse à agência Fars que o "vídeo foi manipulado" e argumentou que a filha "foi transferida para o hospital tarde demais".

Sábado, o ministro do Interior iraniano, Ahmad Vahidi, disse que Masha Amini "terá tido problemas" de saúde no passado, sublinhando ter informação de que a vítima foi alvo de uma cirurgia ao cérebro quando tinha cinco anos, declarações desmentidas pelo pai, que assegurou que a filha estava de "perfeita saúde".

Nos últimos meses, a polícia dos costumes tem sido fortemente criticada por intervenções violentas. Muitos cineastas, artistas, figuras do desporto, políticos e religiosos têm manifestado indignação nas redes sociais após a morte da jovem.

O ex-Presidente iraniano e líder da corrente reformista Mohammad Khatami pediu às autoridades que investiguem o sucedido e que levem os responsáveis à justiça.