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Crises de segurança, alimentar, energética e ambiental no debate da Assembleia Geral da ONU

Foto EPA/JUSTIN LANE
Foto EPA/JUSTIN LANE

A sessão de alto nível na Assembleia Geral da ONU será esta semana marcada pela crise de segurança causada pela invasão russa na Ucrânia, a par das crises alimentar, energética e climática, e das tensões China-Estados Unidos.

O debate de alto nível a começar terça-feira na Assembleia Geral, em Nova Iorque, com líderes de todo o mundo, surge num momento do conflito ucraniano em que a Ucrânia recupera terreno e causa crescentes dificuldades aos invasores russos, esperando-se que as potências ocidentais reafirmem apoio a Kiev e procurem maior pressão sobre o Kremlin da parte de países com posições vagas, nomeadamente os africanos.

Por outro lado, espera-se que a Rússia utilize este evento para alcançar exatamente o oposto: "tentar minar a narrativa dos Estados Unidos e da Europa sobre a guerra", segundo disse à Lusa Richard Gowan, um especialista no sistema das Nações Unidas, Conselho de Segurança e em operações de manutenção da paz.

A delegação russa para o evento será chefiada pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, que, segundo Gowan, não apenas será capaz de ignorar as tentativas de isolamento, como tentará minar as narrativas ocidentais sobre a guerra.

"Lavrov é um veterano jogador da ONU e foi embaixador russo em Nova Iorque durante a guerra do Iraque. Ele ignorará as críticas ocidentais e não mostrará dúvidas sobre o direito da Rússia de atacar a Ucrânia. Ele também tentará usar reuniões bilaterais para encantar líderes não-ocidentais e minar a narrativa dos Estados Unidos e da Europa sobre a guerra", avaliou o analista.

Esta invasão foi um choque histórico para o sistema internacional, tendo ainda mais peso por ter sido levada a cabo por um membro permanente do Conselho de Segurança, órgão da ONU cujo mandato é zelar pela manutenção da paz e da segurança internacional.

Após sete meses de conflito, a ONU acredita que a paz ainda está longe de ser alcançada e aproveitará a Assembleia-Geral para tentar avançar em questões específicas como facilitar a exportação de alimentos e fertilizantes da Ucrânia e da Rússia, garantir a segurança na central nuclear de Zaporijia e assegurar um tratamento digno aos prisioneiros de guerra.

Embora o problema seja mais profundo, a guerra na Ucrânia agravou a crise alimentar em muitos países em desenvolvimento, que exigirão mais apoio das Nações Unidas para evitar uma possível catástrofe.

Segundo a ONU, este ano há o risco de fome em países como o Iémen, Somália, Etiópia, Sudão do Sul, Nigéria ou Afeganistão e durante a próxima semana várias reuniões paralelas serão realizadas em Nova Iorque para tentar impedir que a ameaça se torne realidade.

Enquanto isso, a crise energética decorrente do conflito ucraniano será uma das principais preocupações dos países europeus, que se preparam para um inverno difícil.

A outra grande crise que será discutida na ONU é a climática, já que António Guterres anunciou que usará a próxima semana para procurar mais compromissos nessa área, principalmente entre os países mais ricos.

Também o dossiê nuclear iraniano e as relações fraturantes entre as duas grandes potências económicas - Estados Unidos e China - serão temas que mobilizarão atenções na ONU.

Como habitual, será o Brasil o país a abrir os discursos de alto nível na 77.ª Assembleia Geral, através do Presidente do país, Jair Bolsonaro, na manhã de terça-feira.

Contudo, a ordem habitual dos discursos será invertida, uma vez que os Estados Unidos - anfitrião do evento e tradicionalmente o segundo a apresentar-se -, só intervirão na quarta-feira, devido à presença do chefe de Estado, Joe Biden, no funeral da Rainha Isabel II - a decorrer na segunda-feira.

De acordo com Stéphane Dujarric, porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, o facto de muitas figuras de Estado viajarem para Londres para participar na cerimónia fúnebre da ex-monarca britânica obrigou à alteração da ordem dos trabalhos nas Nações Unidas.

"Os nossos colegas responsáveis pela programação estão realmente a tentar encaixar tudo, porque, obviamente, a mudança nas viagens de alguns líderes mundiais tiveram impacto nos nossos encontros bilaterais, mas espera-se que o secretário-geral tenha um grande número de reuniões bilaterais com chefes de Estado, Governos, ministros das Relações Exteriores e outros dignitários", disse Dujarric num 'briefing' à imprensa.

As despedidas da rainha de Inglaterra causarão alterações também na cimeira sobre a Educação convocada para hoje por António Guterres, que optou por não se deslocar ao Reino Unido para liderar aquele encontro.

Inicialmente, pelo menos 90 chefes de Estado planeavam participar nessa cimeira, mas as Nações Unidas já confirmaram que muitos mudaram os seus planos, fazendo-se representar por outras figuras de Estado.