Ucrânia ordena retirada de todos os seus 'capacetes azuis' na RDCongo
Os militares da Ucrânia destacados como 'capacetes azuis' na República Democrática do Congo (RDCongo) abandonaram na sexta-feira o país africano por ordem do Governo de Kiev, indicou ontem a missão das Nações Unidas na RDCongo (Monusco).
"A pedido do Governo da Ucrânia, as tropas ucranianas retiraram-se oficialmente da Monusco", escreveu a missão da ONU na sua conta da rede social Twitter.
"O comandante da força, o general Marcos da Costa, agradeceu [aos soldados ucranianos] os seus 10 anos de imensas contribuições e serviços ao povo congolês", acrescentou.
De acordo com os mais recentes dados disponíveis, a Monusco tinha, em Novembro de 2021, cerca de 17.800 efectivos destacados no país, incluindo 12.380 militares, sobretudo procedentes do Paquistão (1.974), Índia (1.888), Bangladesh (1.634), Indonésia (1.037), África do Sul (979), Nepal (936) e Marrocos (923).
A Ucrânia não estava entre os 10 países que contribuíam com mais soldados para a missão da ONU, mas o Governo ordenou o seu regresso ao país presumivelmente devido à ofensiva russa ali em curso desde 24 de Fevereiro deste ano, que causou até agora um número de vítimas - militares e civis - ainda por contabilizar, além de mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,2 milhões de refugiados em países europeus, segundo dados atualizados da ONU.
Em finais de Junho, houve protestos em grande escala na RDCongo contra a presença da Monusco - que ali se encontra há mais de duas décadas -, depois de muitos congoleses considerarem que a missão não está a fazer o suficiente para proteger os civis dos grupos armados que combatem no leste do país.
Algumas dessas manifestações desembocaram em ataques e pilhagens às instalações da ONU em várias localidades, deixando um rasto de pelo menos 33 mortos, incluindo civis e quatro 'capacetes azuis', segundo números oficiais.
No passado mês de Agosto, o Presidente da RDCongo, Félix Tshisekedi, falou com o secretário-geral da ONU, António Guterres, para abordar a crise, depois de confirmar que está em curso "um plano de retirada progressiva" da Monusco que deverá concluir-se em 2024.
O extremo oriental do país está desde 1998 mergulhado num conflito alimentado pelas milícias rebeldes e pelos ataques dos soldados do exército.
A ausência de alternativas e métodos de subsistência estáveis levou milhares de congoleses a pegar em armas e, segundo o Barómetro de Segurança de Kivu (KST, na sigla em inglês), o leste da RDCongo é o campo de batalha de pelo menos 122 grupos rebeldes.