Artigos

O preço é o cliente

Nos tempos que correm o preço parece ser o maior factor em termos de gerar e gerir a procura. E ainda bem que é assim… porque com base no preço (também) podemos escolher os nossos clientes.

Os destinos “escolhem” os seus clientes tendo em conta o que oferecem, em termos das suas características, bem como dos serviços que disponibilizam, mas também com base nos preços que cobram. Aquilo que venho defendendo, há vários anos, é que o número pelo número, não só é uma ilusão, como é mesmo perigoso em termos da sustentabilidade do destino e – igualmente importante – em termos da percepção do destino.

Reduzir os preços vai de forma quase garantida, fazer aumentar a procura. Mas baixar o preço da oferta que o destino (mais ou menos) controla não é necessariamente bom… vai gerar a procura errada. Se os voos e/ou quartos forem vendidos a preços demasiado baixos, não estamos apenas a comprometer o rendimento (presente) do destino, mas também o seu rendimento futuro.

E esta é uma das razões porque considero que a aposta nas low cost (e, em termos gerais, em serviços baseados em preços baixos) é uma aposta errada. Porque se queremos atrair um público premium, temos de fornecer um serviço premium. Porque ao oferecer serviços a preços baixos estamos a limitar as margens de lucro do destino, e porque habituamos o mercado a preços baixos.

E se habituamos o mercado (que é constituído pelos nossos clientes – directos e indirectos) a preços baixos é isso que eles vão procurar. Agora e no futuro. E isto compromete a capacidade de pagar melhor aos nossos profissionais, e até de atrair esses profissionais (o que aliás já acontece). Preços mais altos também aumentam a carga fiscal, o que permite às entidades públicas prestarem melhores serviços, não só a quem nos visita, como à própria população – o que quer dizer que todos ganham com isso.

Os preços da Madeira têm de subir… mesmo que isso implique alguma quebra em termos de procura. Até porque essa quebra vai também permitir a resolução de uma serie de problemas relacionados com excesso de pressão turística, e que se verificam nomeadamente em locais como o Areeiro, o Ribeiro Frio, o Porto Moniz e o próprio centro do Funchal… já tentaram andar pela zona do mercado em dias em que haja dois ou três navios no porto?