99% dos corpos exumados em Izium "mostram sinais de morte violenta"
O governador regional de Kharkiv, Oleg Synegoubov, adiantou hoje que 99% dos corpos exumados em Izium, cidade do leste da Ucrânia recentemente recuperada pelas forças de Kiev aos russos, "mostram sinais de morte violenta".
"Há vários corpos com as mãos amarradas nas costas e uma pessoa está enterrada com uma corda no pescoço. Obviamente, estas pessoas foram torturadas e executadas", frisou Synegoubov através da rede social Telegram.
Na mesma publicação, o governador regional de Kharkiv apresentou imagens das centenas de sepulturas encontradas perto de Izium.
Segundo a mesma fonte, "450 corpos de civis com vestígios de morte violenta e tortura foram enterrados" neste local descoberto pelas autoridades ucranianas.
Oleg Synegoubov acrescentou que "também havia crianças" entre os corpos exumados durante o dia pelos "200 agentes e especialistas" que trabalham no local.
No início do dia, um jornalista da agência France-Presse (AFP) conseguiu ver pelo menos um corpo com as mãos amarradas com uma corda no mesmo local, sem poder esclarecer imediatamente se era um civil ou um soldado, pois o corpo estava muito degradado.
A contraofensiva lançada no início de setembro pelo Exército ucraniano na região possibilitou a reconquista de territórios até então ocupados por tropas de Moscovo.
Anteriormente acusado de crimes de guerra em outras regiões da Ucrânia, principalmente em torno de Kiev nas primeiras semanas do conflito, Moscovo tem rejeitado sempre essas acusações.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou hoje as forças russas de "assassínios" e "torturas", depois das centenas de túmulos descobertos numa floresta perto de Izium.
"Bucha, Mariupol, agora, infelizmente, Izium. A Rússia (...) deve ser responsabilizada", prometeu o líder ucraniano.
Autoridades ucranianas disseram que também encontraram evidências de tortura em outros lugares da região.
O responsável de direitos humanos ucraniano, Dmytro Loubinets, referiu também, através do Telegram, "provavelmente mais de 1.000 cidadãos ucranianos foram torturados e mortos nos territórios libertados da região de Kharkiv".
Testemunhas e um investigador ucraniano disseram que alguns foram baleados e que outros foram mortos por fogo de artilharia, minas ou ataques aéreos.
A agência de Direitos Humanos da ONU já disse que vai investigar as mortes.
As autoridades acreditam que a maioria das pessoas enterradas sejam civis, mas havia pelo menos uma vala comum onde foram descobertos 17 soldados ucranianos.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de 7,2 milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra 5.827 civis mortos e 8.421 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.