Madeira

“A pandemia teve muito impacto na saúde mental das crianças e adolescentes”

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Foto Miguel Lira/SRS

A pandemia e o confinamento trouxeram aos consultórios dos médicos pediatras um conjunto de novos problemas de saúde mental, como a dificuldade das crianças e adolescentes em socializarem com outras pessoas, e o agravamento de velhos problemas a nível físico, como a obesidade nos estratos mais jovens da população. “O impacto da pandemia foi importante em todas as pessoas, mas particularmente nas crianças e adolescentes”, assume Helena Porfírio, da organização da XXIII Reunião da Secção de Pediatria Ambulatória da Sociedade Portuguesa de Pediatria (SPP), que decorre ao longo desta sexta-feira, no Colégio dos Jesuítas (Universidade da Madeira)

É preciso acabar com o medo dos pais de que as crianças vão para a rua e se sujem. Às vezes os pais acham que as crianças estão mais seguras no quarto a jogar Minecraft ou num 'chat' qualquer no computador e na verdade não estão Rita Cordovil, investigadora da Faculdade de Motricidade Humana

Metade das comunicações neste encontro técnico versam sobre o impacto da pandemia nos mais jovens. “Temos dados de medição da competência motora de crianças e adolescentes no pré-Covid e pós-Covid. Temos indicadores objectivos que mostram a competência motora diminuiu durante este período do Covid e é importante ver o que é que conseguimos fazer”, disse Rita Cordovil, da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade de Lisboa, que lembra que lembra que o desenvolvimento psicológico está ligado ao desenvolvimento físico, “porque se o corpo não mexe a cabeça também não pensa”. Esta especialista em desenvolvimento motor considera que há que perceber o que pode ser feito a partir de agora para mitigar estes problemas, sendo que a abordagem terá de ser multidisciplinar, com envolvimento dos médicos/pediatras, da comunidade escolar e da família. A este respeito, deixou um desafio às famílias, no sentido de diminuírem os tempos de exposição aos ecrãs e promoverem mais as actividades físicas: “É preciso acabar com o medo dos pais de que as crianças vão para a rua e se sujem. Às vezes os pais acham que as crianças estão mais seguras no quarto a jogar Minecraft ou num 'chat' qualquer no computador e na verdade não estão”.

O secretário regional da Saúde, Pedro Ramos, reconheceu que “se há áreas onde houve muito impacto com esta pandemia foi na saúde mental das crianças e dos adolescentes”. O governante apontou aquele que acha ser o caminho a seguir: “Todos nós temos que recuperar rapidamente esta situação. Temos que estar mais próximos destas idades, através das consultas multidisciplinares, os médicos de família, os pediatras, os psicólogos, os nutricionistas e todos aqueles que podem contribuir para uma evolução com condições pós-pandemia nesta fase de recuperação”.

Parece não estar excluída a contribuição da Covid para o aumento da doença mental, não propriamente por acção directa do vírus mas devido à ansiedade gerada pela doença e sobretudo pelos efeitos da falta de socialização motivada pelos sucessivos confinamentos e medo de contágio Manuel Pedro Freitas, director do Serviço de Pediatria do SESARAM

Para o director do Serviço de Pediatria do SESARAM, Manuel Pedro Freitas, a formação contínua dos pediatras é essencial para que possam dar a melhor resposta a estes novos desafios: "Em pouco mais de uma década tivemos de nos confrontar com a Gripe A, com a dengue e recentemente com a Covid, que não só colocou à prova todos os sistemas de saúde mundiais como na idade pediátrica parece não estar excluída a sua contribuição para o aumento da doença mental, não propriamente por acção directa do vírus SARS-Cov2 mas devido à ansiedade gerada pela doença e sobretudo pelos efeitos da falta de socialização motivada pelos sucessivos confinamentos e medo de contágio. Como se isto não bastasse, ainda vemos o reaparecer de algumas velhas doenças".