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Escola. O que se pode e o que não se pode aprender

Felizmente aprendi bem cedo, com os meus mentores de profissão, que colo nunca é de mais

Fim de férias, início de aulas, crise na Europa, e Portugal de novo em sarilhos. Assim temos o terreno ideal para um início de ano letivo pouco inspirador para as reais necessidades das crianças e dos jovens.

Tendo a capacidade de perceber as diferentes perspetivas, e de me situar no lugar que já conhecem, mantenho-me preocupada com os mais novos que continuam a crescer no meio de zonas de conflito, má gestão de recursos e formação deficitária, no que se refere ao desenvolvimento infantil e juvenil.

É sem dúvida mais fácil encostar responsabilidades a crenças racionais, que mais não servem do que facilitar a tarefa e encher o peito de certezas. A ideia de que a escola ensina e quem educa são os pais, ou na ausência dos mesmos, os educadores “de serviço”, a leveza de que sem regras ninguém cresce, ignorando as necessidades emocionais, são ideias perigosamente difundidas e que em muito prejudicam a tarefa de crescer.

Esta tendência reducionista, ainda demasiado enraizada, ultrapassa o meio escolar estando presente em muitas famílias e educadores de instituições de crianças e jovens, sem família competente para educar, que papagueiam este discurso desresponsabilizando-se das competências afetivas essenciais no crescimento emocional.

Infelizmente existem adultos que acreditam de verdade que os afetos são maus hábitos, ou vícios que só servem para estragar, “com mimo”, os que em apneia afetiva tantas vezes reclamam esse direito essencial. Outras vezes o afeto entra apenas como recompensa, qualquer coisa bem perto da manipulação: se nos agradares, com resultados ou bom comportamento, terás direito a algum tempo de afeto ou atenção. Será reconhecido e valorizado se corresponder à vontade de outros ignorando a sua essência e aprendendo a não gostar de tudo o que não esteja em sintonia com vontades alheias.

Felizmente aprendi bem cedo, com os meus mentores de profissão, que colo nunca é de mais e que quando ele existe todo o resto é muito mais fácil de aprender e adquirir. Falo da confiança, da autoestima, da crença nas competências próprias, na liberdade de exprimir pensamentos, no sentido critico, na vontade de crescer. Falo do prazer de estar com os outros, de socializar, de saber ouvir, escutar, não ter medo de falar, de ter prazer em participar na vida comunitária, de ter noção do seu valor.

Nada disto resulta das matérias que se aprende na escola, nem dos resultados dos testes, nem dos exames nacionais, nem mesmo da entrada para a faculdade, licenciaturas, mestrados ou doutoramentos. Se a criança não crescer em afeto todo o resto vai sendo colado a uma estrutura frágil, um alicerce fraquinho que, num sopro, habitualmente acaba por ruir.

Tantas vezes ouço jovens na consulta, alunos brilhantes ou profissionais em desenvolvimento, acabados de sair do “curso certo” ou “profissão de futuro”, profundamente tristes, perdidos, conscientes de que foram empurrados para uma vida que não sentem como deles e que não conseguem travar, sendo agora os principais castradores da sua própria vontade. São brilhantes mas infelizes. Pedem ajuda e na maioria querem recomeçar a alicerçar o seu mundo emocional. Que pena terem perdido tanto tempo.

Outros, muitos, perdem-se pelo caminho, e também connosco choram a impossibilidade de não se sentirem amados nem capazes de gostarem de si próprios. Querem saber como se faz, querem ter experiências de reconhecimento. Que pena terem crescido assim.

Mais uma vez neste inicio de ano letivo, apelo a todos os que se permitem pensar, com afeto, sobre a educação dos mais novos que não podemos nem devemos facilitar. Assim como a natureza tem que ser preservada e o ambiente precisa de restruturação e cuidados básicos fundamentais para a sobrevivência de todos, as crianças e os jovens também precisam de menos ruido e poluição, também para a sobrevivência da humanidade. Sei que muitos estão comigo e a esses só posso agradecer a determinação e a coragem de não desistir.