AIEA vê sinais positivos para definição de perímetro de segurança em Zaporijia
A Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), em consultas com Kiev e Moscovo para a definição de uma zona de segurança em torno da central nuclear ucraniana de Zaporijia, referiu hoje haver sinais positivos nesse sentido.
"Vi sinais que demonstram que eles estão interessados em tal acordo", declarou o diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, numa conferência de imprensa, no primeiro dia do Conselho dos Governadores da agência especializada da ONU.
"Estamos a discutir as diversas características técnicas", como o perímetro dessa zona ou o trabalho dos dois especialistas da AIEA que se encontram no local, indicou.
"E aquilo que observo é que as duas partes estão a cooperar connosco e a fazer perguntas, muitas perguntas", prosseguiu Grossi.
Num relatório divulgado na semana passada, pouco depois de uma missão de avaliação ao estado das instalações de Zaporijia, a AIEA defendeu que fosse criada uma zona de proteção do local, para impedir uma catástrofe nuclear como a ocorrida na central de Chernobyl, em abril de 1986.
Situada no sul da Ucrânia e ocupada pelas tropas russas desde 04 de março, a central nuclear de Zaporijia, a maior da Europa, foi várias vezes alvo de bombardeamentos nas últimas semanas, acusando-se mutuamente Moscovo e Kiev de tais ataques.
Apesar de Kiev, por seu lado, defender uma zona desmilitarizada, Grossi apelou para que se "mantivessem as coisas simples".
"É preciso que a Ucrânia e a Rússia cheguem a acordo sobre o princípio muito simples de não atacar ou bombardear a central (...), é preciso o compromisso de que nenhuma ação militar terá como alvo a central e as suas imediações", sublinhou.
"Não posso entrar em considerações em relação a um grande processo de desmilitarização ou movimentos de tropas, que não fazem parte do meu mandato", observou.
O Conselho de Governadores da AIEA, organismo de vigilância nuclear da ONU, reúne-se esta semana em Viena, tendo no programa a possível votação de uma resolução condenando Moscovo.
Segundo várias fontes diplomáticas, os diversos Estados-membros tencionam analisar a meio da semana um texto "instando a Rússia a cessar imediatamente todas as suas ações" contra a central de Zaporijia "para que as autoridades competentes", ou seja Kiev, "retomem o respetivo controlo total".
No domingo, a Ucrânia anunciou que o sexto e último reator ainda em funcionamento daquela central nuclear tinha sido desligado. A operadora Energoatom aproveitou a reposição de uma linha elétrica de emergência, que está agora a fornecer a corrente necessária para o arrefecimento do combustível e outras funções essenciais à segurança.
Mas a situação "continua precária", advertiu Grossi, "após semanas de bombardeamentos que destruíram infraestruturas elétricas vitais na zona".
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de mais de 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e mais de sete milhões para os países europeus -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções políticas e económicas.
A ONU apresentou como confirmados desde o início da guerra, que entrou hoje no seu 201.º dia, 5.827 civis mortos e 8.421 feridos, sublinhando que estes números estão muito aquém dos reais.