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Independentistas do Tigray aceitam mediação da União Africana para negociar a paz

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Os independentistas da região do Tigray, norte da Etiópia, afirmaram-se ontem disponíveis para participar em conversações de paz sob a égide da União Africana, como propõe Adis Abeba, para terminar um conflito armado que dura há quase dois anos.

"O governo de Tigray está pronto a participar num sólido processo de paz sob os auspícios da União Africana", lê-se numa declaração das autoridades da região rebelde, no norte da Etiópia, citada pela agência de notícias France-Presse (AFP).

"Além disso, estamos prontos a respeitar uma cessação imediata e mutuamente acordada das hostilidades, a fim de criar uma atmosfera propícia", acrescentaram os independistas.

A decisão hoje anunciada vai ao encontro do que tem sido defendido pelo governo central da Etiópia, e surge num contexto de intensos esforços diplomáticos para encontrar uma solução pacífica para o conflito, depois de novos combates no norte da Etiópia no mês passado terem quebrado uma trégua estabelecida em março.

O Governo etíope há muito que insiste que qualquer processo de paz deve ser negociado sob os auspícios da UA, que está sediada na capital da Etiópia, Adis Abeba.

A Frente de Libertação do Povo Tigray (TPLF), no entanto, tinha até agora rejeitado sempre a mediação do enviado especial da UA para o Corno de África, o ex-presidente nigeriano Olusegun Obasanjo, criticando a sua "proximidade" com o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed.

A notícia da disponibilidade da TPLF para conversações de paz surge no dia seguinte ao alargamento, pela UA, do mandato do enviado especial Olusegun Obasanjo, que foi encarregado de prosseguir os esforços de paz na Etiópia após o reinício dos combates em finais de agosto.

"Reiterei a minha total confiança nele e encorajei-o a continuar o seu compromisso com ambas as partes e com os atores internacionais para trabalhar em prol da paz e da reconciliação na Etiópia e na região", disse Moussa Faki Mahamat, chefe da Comissão da União Africana, no Twitter, após o seu encontro com Obasanjo.

Faki Mahamat também se encontrou com o novo enviado dos EUA para o Corno de África, Mike Hammer, que está em visita a Adis Abeba, e ambos "concordaram com a necessidade de os parceiros internacionais apoiarem o processo liderado pela UA com as partes para pôr fim ao conflito na Etiópia", disse o líder da UA.

Os combates estalaram em várias frentes no norte da Etiópia, causando preocupação internacional e impedindo o fluxo de ajuda humanitária ao Tigray.

O líder da TPLF, Debretsion Gebremichael, propôs no início desta semana uma trégua condicional numa carta ao secretário-geral da ONU, António Guterres.

Referiu que a trégua estava condicionada ao "acesso humanitário sem entraves" e ao regresso dos serviços essenciais à região do Tigray, que sofre de graves carências alimentares e de eletricidade, comunicações e serviços bancários.

Debretsion também apelou à retirada das forças eritreias de todo o território etíope e de Tigray. Até ao momento, o Governo etíope não comentou publicamente o pedido da TPLF.

A guerra começou em 04 de novembro de 2020, quando Abiy ordenou uma ofensiva contra a TPLF, que governava a região antes do início do conflito armado em resposta a um ataque a uma base militar federal e a uma escalada das tensões políticas.

Milhares de pessoas morreram e cerca de dois milhões foram forçados a fugir das suas casas devido à violência.