Até à última árvore
A sustentabilidade está na ordem do dia. Um pouco por todo o mundo, procura-se novas soluções para suprir as necessidades de quase 8 bilhões de humanos. No entanto, as consequências, já irreversíveis, da pegada humana sobre a Terra, já estão aí, na forma de eventos climáticos extremos. Neste verão, na Europa, secas, incêndios e chuvas torrenciais caminharam lado a lado, e muito perto de nós.
Estivemos a “refletir” na pior fase da pandemia. Cheguei a ter esperança de que daríamos um salto evolutivo, protegendo o ambiente, corrigindo as fragilidades nos sistemas de saúde, reduzindo as desigualdades sociais e a violência de género. Mas não foi isso que aconteceu.
Em 2022, a humanidade quis voltar ao dito “normal”. A poluição e o consumo desenfreado dispararam. A violência, também. As produções locais sofrem para vingar num mercado selvagem, que absorve e monopoliza sempre que possível. O turismo voltou em massa. Bons indicadores económicos, muitos dirão. Mas e a tal da sustentabilidade?
Adoro a minha ilha. Há quem diga que vivemos “num cantinho do céu”, que somos abençoados/as por um clima mais ameno, etc.. Mas cada vez mais dependemos do exterior, para tudo. Bens essenciais, incluindo alimentação, e matérias-primas. Até alguns serviços. Esquecemo-nos da pegada ecológica do “mandar buscar”, via aérea e marítima. Consumimos e desperdiçamos, em loop, bens produzidos no outro lado do mundo, por crianças ou mão-de-obra escrava, muitas vezes mulheres. Aproveitamos as festas ao máximo, recorrendo frequentemente a créditos para cobrir as despesas. Erguemos prédios rapidamente, descuramos os espaços verdes urbanos e aplaudimos o turismo de massas, sem minimizar o impacto ambiental que representa. Olhamos com tristeza para o que se passa lá fora, mas fazemos as mesmas escolhas e alimentamos o mesmo estilo de vida. Vivemos “ao máximo” nos picos entre crises imprevisíveis, como a tempestade perfeita que se avizinha. “Há que viver no agora”. E as gerações futuras? Que batata quente estamos a lhes entregar?
Claro que não somos todos/as iguais. Há quem escolha diferente e vá fazendo o seu percurso. Mas uma andorinha não faz a primavera. Para que haja uma transformação no sistema, para que a vida humana se torne sustentável, é necessária uma profunda mudança de mentalidades, uma evolução coletiva. Fazendo, também, mea-culpa, em cada um/a de nós. Não há humanos sem planeta, e fazemos parte de um todo. Sem sustentabilidade, os direitos humanos, a igualdade e a inclusão, nunca serão reais.
“Quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe e poluído o último rio, que as pessoas vão perceber que não podem comer dinheiro.” (Provérbio Indígena).