Milhares de escolas destruídas e insegurança marcam início do ano escolar na Ucrânia
Quatro milhões de crianças regressaram hoje às salas de aulas na Ucrânia, um regresso testemunhado pela UNICEF que lembrou as milhares de escolas destruídas no país e a sensação de insegurança que impera devido ao conflito em curso.
A concluir uma visita de três dias por todo o país, a diretora-executiva do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Catherine Russell, acompanhou no terreno o início do novo ano letivo na Ucrânia e encontrou-se com alunos, pais e professores.
"O novo ano letivo deveria ser um momento de entusiasmo e esperança, numa época em que as crianças regressam às salas de aula e partilham experiências do seu verão com amigos e professores", afirmou Catherine Russell, citada num comunicado enviado pela agência que integra o sistema das Nações Unidas.
No entanto, segundo frisou a representante, "para quatro milhões de crianças na Ucrânia, o sentimento é de inquietação".
"As crianças estão a regressar às escolas - muitas das quais foram danificadas durante a guerra - com histórias de destruição, sem saber se os seus professores e amigos estarão lá para as receber. Muitos pais hesitam em mandar os filhos para a escola, sem saber se estarão em segurança", prosseguiu.
Segundo a UNICEF, milhares de escolas em todo o país foram danificadas ou destruídas na sequência do conflito desencadeado pela ofensiva militar russa, iniciada no final de fevereiro, com menos de 60% das escolas a serem consideradas pelo Governo ucraniano seguras e elegíveis para reabrir.
Neste primeiro dia do regresso às aulas, Catherine Russell visitou uma escola primária reabilitada que havia ficado danificada durante as primeiras semanas de guerra.
"Atualmente, apenas 300 alunos podem frequentar esta escola devido à capacidade do abrigo anti-bombas, ou seja, 14% do número de alunos que frequentavam esta unidade de ensino antes do início da guerra", precisou a UNICEF na mesma nota informativa.
A agência da ONU informou hoje que está a trabalhar com o Governo de Kiev para ajudar a levar as crianças da Ucrânia de volta à aprendizagem.
Os esforços para o regresso das crianças à aprendizagem incluem a reabilitação de escolas, o fornecimento de computadores portáteis, 'tablets' e outros materiais a professores e alunos, assim como orientações de segurança em tempos de guerra para crianças e professores.
"As escolas na Ucrânia estão desesperadas por recursos para construir abrigos anti-bombas em vez de parques infantis, as crianças estão a aprender sobre segurança de engenhos não detonados em vez de segurança rodoviária", acrescentou a diretora-executiva da UNICEF.
E concluiu: "A educação das crianças da Ucrânia tem vindo a ser dramaticamente comprometida. Após mais de dois anos da pandemia e seis meses desde o início da guerra, a sua saúde física e mental está sob enorme pressão. Deve ser feito mais para enfrentar o que para muitos tem sido uma triste realidade".
Durante esta visita ao território ucraniano, Catherine Russell encontrou-se também com a primeira-dama da Ucrânia, Olena Zelenska, com quem abordou, a par das questões educacionais, "meios de reforço da resposta conjunta à crise humanitária" e "a importância do acesso humanitário seguro, atempado e sem impedimentos a todas as crianças que necessitam de assistência crucial, segundo o direito humanitário internacional", informou ainda a UNICEF.
A ofensiva militar lançada a 24 de fevereiro pela Rússia na Ucrânia causou já a fuga de quase 13 milhões de pessoas -- mais de seis milhões de deslocados internos e quase sete milhões para os países vizinhos -, de acordo com os mais recentes dados da ONU, que classifica esta crise de refugiados como a pior na Europa desde a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
A invasão russa -- justificada pelo Presidente russo, Vladimir Putin, com a necessidade de "desnazificar" e desmilitarizar a Ucrânia para segurança da Rússia - foi condenada pela generalidade da comunidade internacional, que tem respondido com envio de armamento para a Ucrânia e imposição à Rússia de sanções.
A ONU apresentou como confirmadas mais de 5.600 vítimas civis mortas, sublinhando que este número está muito aquém dos valores reais.