Já acabaram as festas?
Tudo indica que os anos de confinamento pouco nos ensinaram
Continuando com o meu braço direito muito debilitado, escrevo este artigo muito influenciada pelo que fui verificando e analisando durante o mês de agosto.
Agosto é o mês de festas e arraiais por toda a Região. Acho que nunca me tinha apercebido como o povo gosta tanto destes eventos. Acho, também, que foi a primeira vez que ouvi dizer que, em todo o lado, estavam milhares de pessoas.
Analisei fotos. Vi caras felizes e sorridentes. Só elogios a quem organizava as festas. Não ouvi críticas aos preços praticados para comer seja lá o que for. Tudo estava bom e gostoso. A alegria era contagiante. Entretanto, os problemas que iam acontecendo, com jovens em situações de risco, passavam ao lado das grandes multidões. Aguentaram horas para dançar e gritar ao som dos DJs, que muitos nem sabem o que significa brincar com os discos e tentar fazer sons novos. O que interessa é que tinha ritmo e apelava a que fosse feito muito barulho. Aliás, “façam muito barulho” passou a ser a palavra de ordem da maioria dos artistas que atuavam.
A minha sensação é que, de repente, acabaram os males sobre a terra. Ninguém destes milhares de pessoas queria saber do aumento dos combustíveis. Do aumento do custo de vida. Da falta de médicos no Serviço Regional de Saúde. Do aumento dos salários necessário para fazer face à inflação galopante. Da pandemia que volta a se manifestar com alguns números preocupantes. Enfim, poderia estar aqui a enumerar mais assuntos que já estão a preocupar e que tendem a se agravar nos próximos meses.
É verdade que um assunto se destacou, pela negativa, e que representa uma das pragas da humanidade atual, e que está a afetar as camadas mais jovens da população: as várias toxicodependências, em particular as drogas e o álcool. Toda a gente ouviu as preocupações manifestadas pelo sector da saúde em relação a essa matéria. Eu dou por mim a pensar: o que está a falhar? Ou quem está a falhar? Este não é um assunto novo, mas com estas festas massificadas veio mais ao de cima.
Será que é correto prolongar tanto o horário das festas e dos arraiais, deixando para de madrugada as atuações do “façam barulho” para as quais jovens mais se mobilizam, muitas vezes já pouco sóbrios? Os horários não deveriam ser mais reduzidos?
Tudo indica que os anos de confinamento pouco nos ensinaram ou, se podemos tirar alguma conclusão, é a de que afinal não aproveitamos para treinar o cérebro para questões que estão na ordem do dia. Eu espero, de todo o coração, ver milhares de pessoas na próxima manifestação, quando estiverem em causa direitos muito importantes que podem alterar as nossas vidas neste planeta chamado Terra.