Quanto mais me bates, mais gosto de ti!

A auscultação da saúde da economia regional, apesar de ser feita através de vários indicadores económicos e sociais, o nível do desemprego, ou mais propriamente a taxa de desemprego é um dos mais referenciados. Quanto menor este indicador for, aparentemente, melhor a economia estará, isto é, existe mais criação de emprego devido a investimento privado ou público, originando um aumento de riqueza e consequentemente uma melhor qualidade de vida.

Isto de grosso modo é o que nos diz a teoria, mas na prática olhar para este indicador e alavancar benefício político, é no mínimo perverso.

Desde 2011, que a taxa de desemprego na Região Autónoma da Madeira (RAM) tem vindo a diminuir, inclusive na pandemia não houve um choque severo, muito devido ao apoio público temporário, consequentemente, no último trimestre de 2021, este indicador registou um valor de 6,6%, isto é, por cada 100 pessoas ativas, aproximadamente 7 estavam desempregadas no final desse ano.

A interpretação deste indicador social é bem mais lato do que se possa pensar, o seu resultado não transmite com total transparência a realidade que é nos apresentada todos os dias, ou seja, é verdade que existe mais pessoas empregadas da população ativa pelo simples cálculo que é feito, no entanto não quer indicar que haja em última análise, um aumento da qualidade de vida da população empregada.

Em 2021, o salário médio mensal líquido da população empregada da RAM por conta de outrem era de 884 euros (em média!), e o salário mínimo bruto para o mesmo ano foi fixado em 682 euros, assim sendo, estes dois valores muito próximos (mesmo sendo o primeiro líquido e o segundo bruto), indicam uma maior concentração de rendimentos salariais líquidos mínimos ou mesmo um pouco acima do mínimo.

Ainda assim, tudo isto, pode ser fundamentado, pela desigualdade entre os extremos da população ativa, através dos rendimentos declarados. Desde 2015, que 20% da população ativa com mais rendimentos detém uma riqueza três vezes superior aos 20% da população ativa com menos rendimentos.

Antes de mais, nada contra a riqueza de cada um, cada um deve ser legalmente livre de criar a sua própria riqueza. Quanto mais me bates, mais gosto de ti!

Dito isto, pela comodidade política ou conformismo social, apelaria à reflexão de questões, tais como: Quantos de nós, estamos empregados e mês após mês, contamos todos os tostões? Isto é sinónimo de qualidade de vida? Não deveria ser um objetivo último político, aplicar medidas de longo prazo para melhorar a qualidade de vida da população que maioritariamente vende honestamente, 40 horas semanais ou mais do seu tempo?

Por fim, qual dos extremos acima referenciados que estavam em força na festa no dia 24 de Julho de 2022? Pois, a resposta esta questão, venha o diabo e escolha, entre a ignorância e a estupidez!

Diogo Barrios