Os Homens também choram
No seu último combate no UFC, o lutador Paddy Pimblett dedicou a sua vitória a um falecido amigo. Um gesto bonito, mas já anteriormente visto por outros desportistas. O que saltou à vista foi o seu discurso, falando da saúde mental do seu amigo e onde o nível de desespero o levou.
Este discurso ecoou nos meios de comunicação social, pois apesar da saúde mental começar a ser mais valorizada, a saúde mental nos homens ainda é um grande tabu.
Em Portugal, cerca de três pessoas tentam por termo à sua vida. No mundo, a cada quarenta segundos uma pessoa põe fim à sua história. No nosso país jovens entre os 19 e os 36 anos têm como segunda causa de morte o suicídio. Em Portugal os homens são os que põem mais vezes termo à sua vida.
É “engraçado” como a saúde mental masculina ainda é ridicularizada pela sociedade. Como ainda se propagam frases como “um homem não chora”. Ou como as mulheres são vistas como emocionais e os homens são mais frios e muitas vezes sem sentimentos. Ainda é algo pouco falado em conversas de amigos, não é comum vermos um homem assumir que está com determinado problema. Muitas vezes, a sociedade tem um papel opressor nestas manifestações, o que na minha opinião contribui para o número assustador de suicídios no nosso país.
Um homem não deixa de o ser por ter sentimentos e por expressá-los, mas pode deixar de o ser ao reprimi-los.
No desporto, é comum os atletas camuflarem as suas emoções para que o adversário não tire vantagem disso. Por falar nisso, não poderia deixar de dar os parabéns ao João Vieira, também conhecido por Naza, por ser o mestre as esconder as suas emoções e também por isso ter conquistado mais um titulo no campeonato mundial de poker.
Afirmo muitas vezes que o desporto é uma escola de valores para a vida, e continuo a dizê-lo, no entanto neste caso não considero benéfico esta questão para o nosso quotidiano. Vivemos em sociedade mas muitas vezes estamos sozinhos. Muitas vezes o que dizemos não é o mesmo que sentimos. E julgo que isso se deve à falta de atenção, empatia e compaixão pelo próximo. Nestes casos é necessário estar atento aos pormenores e entender os sinais. É impossível pensar em rendimento desportivo se a pessoa não estiver bem, ninguém consegue treinar, descansar e comer para aumentar a sua performance se mentalmente não estiver bem.
Antes de serem atletas, pais, filhos, trabalhadores são pessoas que necessitam de compreensão.
Por fim, convém relembrar que os homens também sentem e que apesar de algumas vezes verbalizarem menos não quer dizer que não precisem que alguém os ouça. Não é incomum ver pessoas super bem sucedidas a nível profissional colocarem termo às suas vidas. Os exemplos são mais que muitos Robin Williams, Chester Bennington, entre outros... No desporto temos o caso do Michael Phelps, que para mim foi o melhor atleta olímpico de sempre e que passou por uma fase conturbada na sua vida, muito provavelmente porque após a sua carreira ficou com mais tempo livre e os “esqueletos” tiveram mais tempo para sair do armário.
Tenham empatia e atenção à vossa volta, simples palavras poderão ajudar a mudar o rumo de muitas vidas.